A filha do Roberto Jefferson que quase virou ministra do Trabalho do Temer vira fantasia de carnaval
A deputada e quase ministra Cristiane
Brasil está dando mais trabalho do que esperado. Após ter sua nomeação como
ministra do Trabalho suspensa, primeiro por um juiz de Niterói e, depois,
temporariamente pelo Supremo Tribunal Federal, Cristiane quis se defender
pessoalmente das denúncias de dois dos seus ex-motoristas que alegaram ter
trabalhado sem carteira assinada. Quando a poeira quase tinha abaixado e os
aliados esperavam que ela se preservasse até a sua nomeação ser resolvida na
Justiça, a deputada virou meme e até fantasia de Carnaval.
Cristiane escolheu um cenário inusitado. A bordo de uma lancha e tendo um mar
esmeralda e uma música eletrônica de fundo, prometeu que provaria que não deve
nada a ninguém. O vídeo correu como a pólvora pelas redes sociais. “Vai, ministra”,
incentivava um dos seus quatro acompanhantes masculinos, todos de torso nu
depilado. "Todo mundo tem direito de pedir qualquer coisa na Justiça. Todo mundo
pode pedir qualquer coisa abstrata”, disse ela. “[Mas] O negócio é o seguinte:
'quem é que tem direito?', ainda mais na Justiça do Trabalho. Eu, juro pra
vocês, eu juro pra vocês, que eu não achava que eu tinha nada para dever para
essas duas pessoas que entraram contra mim. E eu vou provar isso em breve",
concluiu Cristiane, encorajada pelos amigos.
Sobre o vídeo, a repercussão fala por si. Também teve muita deturpação. Eram famílias no barco, havia crianças passando. Dito isso, penso que uma figura pública deve se portar como uma figura pública, e usar ferramentas como Facebook e Instagram apenas em caráter institucional.— Roberto Jefferson (@blogdojefferson) January 30, 2018
O vídeo não agradou o Planalto, nem o PTB, nem o próprio pai Roberto
Jefferson, presidente da sigla e principal articulador para elevar a
deputada à pasta do Trabalho. Em seu Twitter, o homem-bomba
do mensalão repreendeu a filha. “Sobre o vídeo, a repercussão fala por si.
Também teve muita deturpação. Eram famílias no barco, havia crianças passando.
Dito isso, penso que uma figura pública deve se portar como uma figura pública,
e usar ferramentas como Facebook e Instagram apenas em caráter institucional”.
Jefferson também pediu aos “trogloditas nas redes” “menos moralismo e menos
machismo”.
A assessoria da deputada tentou minimizar a importância da repercussão e das
próprias imagens. “A gravação e a divulgação do vídeo foram uma manifestação
espontânea de um amigo, utilizada fora do contexto. “A deputada reitera ainda o
seu respeito à Justiça do Trabalho e à prerrogativa do trabalhador reivindicar
seus direitos”, disse em nota.
A “manifestação espontânea” complica ainda mais a nomeação de Cristiane,
costurada pelo Governo Temer com o PTB. Em troca de apoio e fidelidade –na
prática, o apoio petebista significa mais 16 votos a favor da reforma da Previdência na Câmara e mais
dois no Senado–, cabia ao partido escolher um nome para a pasta de Trabalho. A
primeira opção foi o deputado do Maranhão Pedro Fernandes, que foi vetado pelo
ex-presidente e ex-senador José Sarney –o filho do deputado é secretário do
governador Flávio Dino (PCdoB), opositor de Roseana Sarney. Descartado
Fernandes, Jefferson alavancou a filha, embora ela respondesse a dois processos
por não garantir os direitos trabalhistas de dois dos seus empregador.
Após a primeira suspensão da posse pela Justiça, baseada em que a nomeação de
uma pessoa com condenação judicial por questão trabalhista fere o princípio da
moralidade administrativa, houve quem tentasse dissuadir o pai. Mas ele se
mostrou irredutível. Em 20 de janeiro, o vice-presidente do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, chegou a suspender a decisão de
primeira instância com o argumento de que não existe, no ordenamento jurídico,
norma que vede a nomeação de qualquer cidadão para exercer o cargo de ministro
do Trabalho em razão de ter sofrido condenação trabalhista. A queda da decisão
de Martins, no entanto, foi questão de horas. A posse, com os preparativos
prontos,voltou a ser suspensa pela presidente do Supremo
Tribunal Federal, Cármen Lúcia. A ministra não entrou no mérito dos
processos trabalhistas da deputada, mas entendeu que a Corte Superior estaria
usurpando a competência da Suprema Corte para julgar o requerimento. Jefferson
manteve o nome mesmo assim.
O caso, encalhado desde o início do
ano, agora virou uma questão de Estado. Não pela convicção do Planalto na
idoneidade da deputada, mas sim pelo agravamento da queda de braço entre o
Executivo e o Judiciário. A batalha nos tribunais, considerados
intervencionistas pela cúpula do poder em Brasília, coloca em xeque a
prerrogativa de o presidente de nomear seus ministros.
Foi esse o ponto ressaltado pelo ministro da Secretaria de Governo, Carlos
Marun. “É um vídeo privado, que vazou na Internet. Ela não está roubando. Que eu
saiba ela estava bem trajada no vídeo. Eu acho que continua o ponto principal,
que este sim deveria estar sendo superdimensionado, que é esse vilipêndio de uma
prerrogativa privativa do presidente da República”, disse Marun em declarações
recolhidas pelo O Globo. “O que existe de errado nessa história é a
decisão do juiz de não cumprir com a Constituição. O descumprimento de um
magistrado pelo que estabelece a Constituição Federal, isso para mim é muito
mais grave do que o fato dela ter gravado um vídeo em um mundo em que todo mundo
anda com uma câmera no bolso”.
Enquanto Cármen Lúcia reavalia sua
decisão sem data definida –ela pediu mais esclarecimentos ao TSJ e pediu parecer
à Procuradoria Geral da União, que se mostrou favorável à suspensão da posse por
entender que a decisão compete ao STF –, Cristiane Brasil virou um potencial hit
do Carnaval. Num dos numerosos memes que inundaram a rede após a divulgação do
vídeo, a usuária do Twitter Renta Côrrea anunciava em caixa alta: “Procura-se
quatro homens brancos com cara de intervencionistas. Tipo físico: que malhem,
porém inchados de bebida e um pouco maltratados pela vida. Motivo: compor minha
fantasia de Cristiane Brasil no Carnaval. Tratar inbox”. (Do MSN Notícias)
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