Jânio de Freitas: A compra de apoio de deputados para Michel Temer está sendo mais cara que a chamada recuperação econômica
Na corrida para a suposta recuperação econômica do Brasil, que na voz
publicizada do governo "já começou", a recuperação da imagem do Michel Temer junto a seus aliados para conseguir concluir o governo tornou-se
prioridade. Nessa linha, enquanto o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
tenta bloquear o teto no limite estabelecido, o mandatário quer flexibilizá-lo
em trocas de apoios.
É o que aponta a coluna de Janio de Freitas, desse domingo (30), que
ressalta os cálculos para a obtenção da vitória de Temer na CCJ, nos últimos
meses, absolvendo-o da denúncia que pretendia chegar ao Supremo Tribunal Federal
(STF): mais de R$ 4 bilhões só nas últimas duas semanas.
Por Janio de Freitas
Da Folha de S. Paulo
Iniciada antes das eleições de 2014, a disputa pela Presidência em 2018 volta
a ser predominante no processo político. Já bem notada, a contrariedade mútua de
Michel Temer e Henrique Meirelles não decorre da aparente divergência de
concepções econômicas entre o ministro da Fazenda e o grupo do Planalto. O jogo
é apenas de política, enquanto o país se desconstrói sob a propaganda de que "a
recuperação começou".
A divergência exposta está no montante do rombo financeiro que o governo,
fracassadas as metas prometidas para 2016 e, depois, para 2017, deve admitir
neste ano. Meirelles defende o teto, estabelecido como rígido e imutável, de R$
139 bilhões. Temer e seu grupo querem elevá-lo. Só para a pretendida vitória na
Câmara contra a licença para processá-lo, Temer empenhou nas últimas semanas
mais de R$ 4 bilhões em pedidos de deputados: R$ 2 bilhões em junho e R$ 2,1
bilhões até meado deste mês, cuja soma equivale a quatro vezes o empenhado nos
cinco meses anteriores.
Com outros gastos, veio a necessidade de aumento de impostos (dos
combustíveis) e o corte de mais R$ 5,9 bilhões em investimentos previstos até o
fim do ano –além dos quase R$ 40 bilhões já cancelados. Se assim está sendo para
sustar o primeiro processo proposto pela Procuradoria-Geral da República contra
Temer, não é difícil entender o que se deve esperar quando cheguem à Câmara as
outras denúncias previstas em medida de Rodrigo Janot. O que leva a uma
observação a propósito: trata-se do uso de bilhões do dinheiro público para
beneficiar um político gravado em encontro clandestino para os acertos
indecentes que pudemos ouvir e ler em transcrição.
Mas não só por essa expectativa Temer e seu grupo batalham pela admissão de
um rombo maior nas contas do governo. Faltam cinco meses para o fim de um ano em
que os políticos governistas só têm, até agora, notícias negativas para o
eleitorado. E o ano que vem será de eleições. Alguma recuperação de imagem nos
próximos cinco meses é ansiada pelo "centrão" pró-Temer. Seja evitando a
aprovação de propostas impopulares do governo, seja com afrouxamento do arrocho
aplicado pelo governo, a pretexto de uma reabilitação nacional que, todos
sentem, não está nem à vista.
Antes de desligar-se do PSDB para entrar no governo Lula, e antes mesmo de
entrar no PSDB, o Henrique Meirelles retornado de longa vida como banqueiro nos
Estados Unidos planejou candidatar-se à Presidência (posso fazer tal afirmação
porque, na época, uma assessoria contratada por Meirelles me procurou para um
encontro que não aconteceu). Aspiração dessa grandeza não morre jamais, José
Serra que o diga. O êxito na recuperação do crescimento econômico é, porém, a
única possibilidade hoje perceptível para uma tentativa da ambição de Meirelles.
Logo, para ele é indispensável a preservação do que lhe parece a maneira de
chegar a tal êxito, não importa o que, quem e quantos caiam pelo caminho.
O tabuleiro em que Henrique Meirelles e Michel Temer passaram a jogar é o da
política. Um e outro tornam-se seus piores antagonistas. Entre um e outro, a
economia do país de 200 milhões de pessoas é um dispositivo de fazer
política.
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