Por Carlos Fernandes , no DCM
A equipe econômica do governo Temer liderada pelo ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, concedeu uma coletiva de imprensa na noite dessa quarta (29)
para apresentar a “solução” encontrada pelo governo para corrigir a barbeiragem
de R$ 58,2 bilhões no déficit público previsto para 2017.
Antes de qualquer coisa, é preciso lembrarmos que o governo que prometeu
moralizar as contas públicas do país já havia previsto um rombo nos cofres do
Estado para este ano no valor de R$ 139 bilhões. O déficit extra foi imposto
pela dura realidade dos fatos: absolutamente nenhuma medida econômica tomada
pelo governo surtiu efeito prático no mercado.
Baseado numa previsão estapafúrdia de que o Brasil cresceria 1% no PIB este
ano, os cálculos de arrecadação de impostos tiveram que ser completamente
refeitos. Num cenário econômico em que o desemprego não cede, aumenta-se o
número de famílias endividadas e a confiança do consumidor simplesmente
desaparece, não restou outro caminho senão reduzir essa previsão para 0,5%. A
metade.
Pois bem, a tal “solução” encontrada pelo atual governo sustenta-se em dois
velhos pilares da política neoliberal praticada à exaustão até o governo FHC:
aumento de impostos e redução nos serviços prestados pelo Estado. Serviços esses
que nada mais são do que a justa contrapartida a esses mesmos impostos pegos
pelo contribuinte que agora o governo irá aumentar.
Em resumo, o malabarismo financeiro para fechar as contas do país se dará da
seguinte forma:
De um lado, o Estado se faz presente para suspender as desonerações na folha
de pagamento das empresas o que tornará os custos de produção no Brasil ainda
maiores. Como de costume, os efeitos esperados são os de demissões de mais
trabalhadores e repasses dos custos para os consumidores.
Do outro lado, o Estado se faz ausente na hora de prestar à população os mais
básicos serviços públicos como saúde, educação, segurança e saneamento. É nesta
parte que o governo foi especialmente impiedoso. Dos R$ 58,2 bilhões do déficit
extra, R$ 42,1 bilhões serão custeados exclusivamente com o abandono
estatal.
Ou seja, no final das contas, de um lado ou do outro é o cidadão brasileiro
que será particularmente prejudicado pelo fracasso do golpe e pela ineficiência
da política econômica adotada pelo governo ilegítimo.
E o pior – sim, existe pior – é que as previsões são ainda mais alarmantes.
Ninguém com um mínimo de bom senso e conhecimento econômico acredita que “só”
essas medidas serão suficientes para cobrir o rombo do déficit público
anual.
Apenas a nível de ilustração, o resultado divulgado pelo IBGE nesta mesma
data sobre o setor de serviços, um dos mais importantes na economia brasileira,
foi desolador. Para o mês de janeiro tivemos uma queda de 2,2% em relação ao mês
de dezembro/2016. Se comparado ao mesmo período do ano anterior, foi um
desastre. Despencamos inacreditáveis 7,3%. Muito abaixo do que os analistas
esperavam.
Dessa forma, se continuarmos patinando miseravelmente dessa maneira – e a
julgar pela profunda crise política e institucional na qual o país está inserido
tudo indica que continuaremos – não restam dúvidas que será necessário novo
aumento de impostos e novos cortes nos gastos e investimentos do Estado.
Os resultados desastrosos do Brasil pós-golpe chegaram a um nível
insustentável. Se antes a deposição desse governo golpista se tornava imperioso
por questões morais, agora trata-se da literal sobrevivência de toda uma
nação.
Ou cai Temer, ou cai o Brasil. Os dois simplesmente não dá.
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