Os números mostram que o governo tem que fazer o ajuste fiscal para o Brasil poder andar para frente
Sim, o Brasil precisa de um ajuste fiscal. Sério, firme e bem feito. Pioraram
todos os indicadores das contas públicas, as despesas têm crescido mais do que
as receitas, a dívida pública aumentou, o superávit primário se estiolou, e o
déficit nominal cresceu. Entes públicos têm débitos entre si, e as estatísticas
das contas do governo precisam ser refeitas para se restabelecer a
credibilidade.
Em dezembro de 2010, último mês do governo Lula, a dívida bruta do governo
central era de 53,35% do PIB. Em julho deste ano, último dado disponível do
governo Dilma, havia crescido seis pontos, para 59,49%. No período, o déficit
nominal, que inclui o pagamento de juros da dívida, saltou de 2,48% para 3,84%
do PIB. Já o superávit primário, que exclui os juros, caiu de 2,7% para 1,22%. E
isso apesar dos inúmeros truques, pedaladas e alquimias contábeis.
O que mais surpreende no aumento da dívida bruta e do déficit é que o governo
Dilma Rousseff é o que mais arrecada desde o início do Plano Real. Olhando
apenas para os números do governo federal, a arrecadação tributária subiu de
23,74% do PIB, em 2010, para 25,54%, em 2013, segundo cálculos do Instituto
Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Uma alta de 1,8 ponto em apenas
três anos, o que dá uma média de 0,6 ponto anual.
No governo Fernando Henrique, a arrecadação federal aumentou 2,56 pontos em
oito anos, de 20,55% do PIB, em 1994, para 23,11%, em 2002. Uma média de 0,32
ponto por ano. Já o governo Lula subiu em uma média anual de 0,08 ponto
percentual, de 23,11%, em 2002, para 23,74%.
Os números colocam em risco o grau de investimento do país. Pela agência
Standard & Poor’s, o Brasil já sofreu rebaixamento e está a apenas um nível
do grau especulativo. A permanência do baixo crescimento, inflação alta e piora
fiscal eleva o risco de novo corte.
O governo fala muito da queda da dívida líquida. Realmente caiu, de 39,15%
para o mínimo de 33,13% e está agora em 35,35%, mas esse é um indicador que
perdeu credibilidade nos últimos anos. Nele o governo calcula tudo o que deve e
desconta o que tem de ativos. Enquanto fez isso apenas com as reservas cambiais
fazia sentido, mas hoje registra também os mais de R$ 400 bilhões que tem a
receber do BNDES, que é um ativo sem liquidez.
No mundo inteiro as estatísticas de endividamento do setor público são
olhadas pelo conceito de dívida bruta, que é muito mais alta, de 59%. E pior: a
dívida do Brasil é cara demais comparada a outros países. Paga 11% de juros ao
ano. Portanto, não faz sentido essa frase que a presidente Dilma tem dito sobre
o Brasil ter uma das menores dívidas do mundo. Porque ela está comparando dois
conceitos: a nossa dívida líquida com a dívida bruta de outros países.
O cenário para as contas públicas fica mais desafiador por causa da inflação
alta. O aumento da taxa Selic pelo Banco Central vai aumentar também a despesa
do governo com juros e vai dificultar a queda do déficit nominal. Para fechar as
contas este ano, o governo está forçando a todo custo um leilão de telefonia 4G,
mesmo sabendo que uma das principais empresas do setor, a Oi, não vai poder
participar pelo seu alto endividamento e apesar da holding que controla a Nextel
no Brasil ter entrado em recuperação judicial nos EUA. Isso para fazer com a
receita da concessão o mesmo que fez com a venda de Libra no ano passado: elevar
os recursos imediatos para melhorar o resultado fiscal.
Por Miriam Leitão
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