Diferentes sociedades cresceram de diversas formas, sendo que em algumas, a
corrupção desenfreada não teve espaço para crescer, e essas sociedades nunca
tiveram que lutar contra um câncer nacional; a Nova Zelândia é um exemplo para
ilustrar esse caso. Outras desenvolveram com o tempo instituições fortes nas
quais o balanço pendeu para a corrupção contida em níveis aceitáveis; citamos:
Inglaterra, Alemanha, Holanda como exemplos.
Mais importante para nós, brasileiros, é estudarmos sociedades que já
estiveram imersas no que poderíamos chamar de “mar de corrupção”, de onde não
parece haver saída nem solução, onde todos pareciam ser corruptos, mas depois de
um tempo conseguiram se modificar, conseguiram se tornar menos corruptas até se
tornarem modelos a serem seguidos.
Quando a corrupção é absolutamente alastrada em um país, temos a sensação de
que não há mais saída e que não há mais nada a fazer; é mais do que não saber
mais separar o joio do trigo, é a sensação de não haver mais trigo nenhum.
Bertrand De Speville, uma das maiores autoridades do mundo em estratégia e
ação anticorrupção, foi responsável pela transformação de Hong Kong de uma
sociedade entre as mais corruptas do mundo para uma das menos corruptas. Em seu
livro texto, “Superando a Corrupção” (Ed. Arte & Ciência), ele lista os sete
fundamentos essenciais para o combate bem sucedido à corrupção em qualquer país,
em quaisquer condições. São eles:
Vontade. Tem que haver vontade política para ação contra o
problema. A vontade política para a ação contra a corrupção geralmente é frágil
e tem vida curta.
Lei. Precisam existir leis fortes, incluindo claramente os
delitos que refletem os valores da comunidade, poderes efetivos de investigação
e normas de evidência que auxiliem, adequadamente, a denúncia e o processo dos
acusados dos crimes de corrupção.
Estratégia. A luta contra a corrupção requer uma estratégia
clara, completa e coerente que precisa abranger três elementos: aplicação
efetiva das leis; prevenção da corrupção, pela eliminação das oportunidades para
a corrupção, nos sistemas e regulamentações, pequenas e grandes; e educação
pública sobre corrupção e persuasão das pessoas para ajudarem na luta contra a
corrupção.
Ação coordenada. Para ser efetiva, a implementação desses
elementos precisa ser coordenada. Até agora, coordenação bem-sucedida contra a
corrupção só foi obtida com a criação de um corpo especializado em
anticorrupção.
Recursos. Os líderes nacionais precisam reconhecer que a
luta bem-sucedida contra a corrupção requer recursos humanos e financeiros.
Suporte Público. As autoridades não podem combater o
problema sem a ajuda das pessoas. Portanto, a comunidade precisa estar envolvida
desde o começo.
Resistência. Todos precisam perceber que superar corrupção
vai levar tempo e deverá causar dor, e que o problema, uma vez posto sob
controle, deverá assim permanecer.
A obra de Speville é tão importante que deveria ser leitura obrigatória para
todos que se habilitam para a vida pública. Ela traça uma metodologia, um
caminho, escrita por um dos poucos que conseguiram sucesso em uma área tão
árida.
O que temos hoje pela frente parece mais do que uma façanha hercúlea, parece
uma missão impossível. Mas ela só será impossível mesmo se ninguém tentar, se
todos desistirem.
Fazer um país de dimensões continentais galgar mais de vinte posições no
índice de Corrupção Mundial é um feito que nunca foi conseguido até hoje no
mundo, desde que a corrupção passou a ser medida. Para o Brasil consegui-lo,
terá que fazer mais do que apenas veicular escândalos que vendem jornais, mudar
leis de forma bem intencionada, porém cosméticas. O Brasil precisará elaborar e
seguir uma estratégia consistente anticorrupção que perpasse todos os
fundamentos, pelo tempo necessário, doa a quem doer.
A obra “Superando a Corrupção”, de Bertrand de Speville, revela um caminho
para ser estudado e, com dedicação, ser usado como exemplo.
Por Henrique Flory, mestre em Administração de Empresas pela FGV e em Administração
Pública pela Harvard University
Comentários
Postar um comentário