O presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendime, encarregou seu ex-motorista
Sebastião Ferreira da Silva, 69, de realizar diversos pagamentos milionários em
dinheiro vivo. A denúncia é do próprio Sebastião, em depoimento ao Ministério
Público Federal. “Ferreirinha”, como é conhecido, disse que certa vez Bendine,
após subir de mãos vazias num prédio na região dos Jardins, em São Paulo, saiu
com uma sacola repleta de maços de notas de R$ 100. Segundo ele, a sacola foi
entregue depois ao empresário Marcos Fernandes Garms, amigo de Bendine. O
executivo do BB afirma que as acusações são “absurdas”.
Ferreirinha contou também que levava Bendine com frequência a um endereço no
bairro dos Jardins, em São Paulo, onde funcionam diversas empresas, entre elas
algumas ligadas à rede Record, como uma corretora de seguros e um escritório de
advocacia que presta serviços ao grupo. A Record informou por meio de sua
assessoria que não tem nenhum departamento no endereço citado pelo motorista e
não se manifesta por outras empresas do grupo.
O depoimento provocou a abertura de procedimento de investigação contra
Bendine, em junho, por suspeita de lavagem de dinheiro. É uma etapa preliminar
do trabalho do Ministério Público. A revelação é de reportagem de Leonardo Souza
para o jornal Folha de S. Paulo, segundo a qual nada garante que Bendine venha a
ser denunciado por causa das declarações de Ferreirinha. Denúncia anônima com
teor semelhante ao depoimento do motorista foi arquivada pelo Ministério Público
Estadual de São Paulo e por 11 órgãos do governo federal, incluindo a Comissão
de Ética Pública da Presidência.
A Folha já havia noticiado que Bendine pagou multa de R$ 122 mil ao Fisco
para se livrar de questionamentos sobre a evolução de seu patrimônio pessoal.
Ele foi autuado por não comprovar a origem de aproximadamente R$ 280 mil
informados em sua declaração anual de ajuste do Imposto de Renda.
Bendine entrou no radar da Receita em 2010, após comprar no interior paulista
um apartamento avaliado em R$ 200 mil, pago em dinheiro vivo. Como ele pagou o
auto de infração, o caso foi arquivado em janeiro deste ano. O procedimento
aberto pelo Ministério Público é uma nova frente de investigação.
Ferreirinha tem um histórico de anos de serviços prestados ao PT e ao Banco
do Brasil. Em 2002, foi contratado para a campanha presidencial de Lula. No ano
seguinte, passou a trabalhar para a Presidência da República em São Paulo, cujo
escritório ocupa o terceiro andar de um prédio do BB na avenida Paulista.
O motorista trabalhou para a Presidência até 2007, quando foi desligado do
quadro de motoristas após ter se desentendido com a então chefe do gabinete da
Presidência Rosemary Noronha, amiga de Lula demitida em 2012 por suspeitas de
que fazia tráfico de influência em várias agências do governo.
Nesse período, Ferreirinha dirigiu sobretudo para Gilberto Carvalho, então
chefe de gabinete de Lula, hoje chefe da Secretaria-Geral da Presidência da
República no governo Dilma Rousseff (PT).
Num determinado dia, disse Ferreirinha, Bendine voltou desse edifício com uma
sacola nas mãos e a depositou atrás do banco do carona. De lá, foram a um outro
local em Moema. À noite, por fim, dirigiram-se para a casa do empresário Marcos
Garms.
Depois do jantar, disse Ferreirinha em seu depoimento, Bendine pegou a sacola
no carro, mas deixou escapar uma das alças. Foi quando Ferreirinha afirma ter
visto o dinheiro dentro da sacola.
Sobre o empresário Marcos Fernando Garms, o presidente do Banco do Brasil
disse que ele é seu amigo há mais de 45 anos. Bendine nega ter entregue dinheiro
a ele diante do motorista. “É um absurdo, uma calúnia”, afirmou.
Bendine disse que já dirigiu o Range Rover de Garms e considera o ato
normal. ”Ele é meu amigo de infância, ando com o carro, passeei com ele em fins
de semana. Neste [carro] e em outros. Não vejo problema em fazer um passeio num
carro de um amigo”, afirmou.
Comentários
Postar um comentário