Pesquisa mostra que 59,6% de policiais militares já foram humilhados ou desrespeitados por superiores
Uma pesquisa, divulgada hoje (30) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
aponta que 73,7% dos policiais brasileiros são a favor da desvinculação do
Exército. Entre os policiais militares, 76,1% responderam ser favoráveis à
desmilitarização e 93,6% acreditam que é preciso modernizar os regimentos e
códigos disciplinares.
Quando questionados sobre a regulamentação do direito à sindicalização e de
greve, 86,7% dos entrevistados se dizem favoráveis. Para 87,3%, o foco de
trabalho da Polícia Militar (PM) deveria ser reorientado para proteção dos
direitos da cidadania. Os dados indicam ainda que 66,2% dos cerca de 21 mil
entrevistados acreditam que as carreiras policiais não são adequadas da maneira
como estão organizadas; 80,9% acreditam que as polícias deveriam ser organizadas
em carreira única, com ingresso por meio de concurso público, 58,3% acreditam
que a hierarquia nas polícias provoca desrespeito e injustiças profissionais e
86,2% afirmam que a gestão deve ser mais eficiente.
De acordo com a pesquisa, 65,9% disseram ter sofrido discriminação por serem
policiais e 59,6% afirmaram já ter sido humilhados ou desrespeitados por
superiores. Outro dado mostra que 43,2% acham que policial que mata um criminoso
deve ser premiado e inocentado pela Justiça e 83,7% afirmaram que um policial
que mata suspeito deve ser investigado e julgado.
Entre as dificuldades no trabalho, 99% apontam os baixos salários, 98,2% o
treinamento e formação deficientes, 97,3% o contingente policial insuficiente e
a falta de verbas para equipamentos e armas. Foram citadas ainda as leis penais
inadequadas (94,9%) e a corrupção nas polícias (93,6%).
O coordenador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de
Lima, explicou que muitas vezes se confunde a PM com polícia militarizada. “Os
policiais disseram que isso é importante para o trabalho da polícia, que é
preciso ter regras, estar parametrizado sobre o que podem ou não fazer. Eles
querem autonomia, mas é preciso modernizar o regulamento para que eles também
tenham seus direitos preservados”.
O professor de direito constitucional da Fundação Getulio Vargas, Oscar
Vilhena Vieira, lembrou que há várias definições do que significa
desmilitarização. “Não estamos dizendo que tem que ter uma polícia sem
hierarquia. Ela tem que ser hierarquizada, uniformizada, e tem que ter um código
disciplinar adequado e compatível com os padrões democráticos que hoje existem.
A desvinculação é das Forças Armadas e não do Estado”.
Para a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, nem sempre o
que o policial quer dizer sobre o termo desmilitarização contemplará o que a
sociedade espera disso, por isso o debate tem que ser muito benfeito. “Talvez,
tenhamos mudanças internas na polícia e a sociedade não fique contente. Os
policiais de base e a cúpula certamente enxergam de forma distinta a
desmilitarização por diversas razões. Certamente, até mesmo nas corporações não
têm consenso”.
A pesquisa ouviu 21.101 policiais militares, civis, federais, rodoviários
federais, bombeiros e peritos criminais em todos os estados, de 30 de junho a 18
de julho.
Flávia Albuquerque - Repórter da Agência
Brasil Edição: Carolina Pimentel
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