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Devemos combater o desrespeito e a exclusão social dos idosos

Ao comemorarmos o Dia dos Avós no último final de semana durante as festas do primeiro aniversário da JMJ-Rio 2013, e sob a proposta do Papa Francisco de uma presença efetiva dos cristãos na sociedade, é muito importante uma reflexão sobre os rumos desta mudança de época em que o que vale é o imanente, a produção, os ganhos e não a vida e a pessoa em si.

Existe ao lado disso algo presente no coração humano, que é a vontade de viver. Escutamos tantas propostas de prolongar a vida das pessoas, até com a promessa de desfrutar melhor qualidade de vida neste período de sobrevida que cada indivíduo receberá. Porém, ao mesmo tempo, o que se vê, apesar do estatuto da pessoa idosa, é a rejeição, o desrespeito e a exclusão social desse grupo etário. 

Torna-se necessário aproveitarmos o momento propício em que nos encontramos, pois a maior produção mundial de alimentos, os avanços da ciência e medicina, a evolução tecnológica são norteadores do aumento paulatino da expectativa de vida dos seres humanos. 

Os estudos também nos têm mostrado que os idosos não perdem sua capacidade funcional se preparados com atividades físicas e mentais. Mas é preciso que estas atividades sejam observadas com certos critérios, pois atualmente elas são aplicadas com pouco ou quase nenhum controle na maior parte das instituições assistenciais, academias de ginástica e outras entidades. A recomendação saudável para uma atividade física encontra respostas tanto em academias como em logradouros públicos e em instituições próprias para recuperação. 

É, porém, importante salientar que, além de força, equilíbrio, resistência e destreza, a pessoa idosa necessita de carinho, atenção, cuidados, lazer e contato social. Para a auto-estima muitas outras atividades podem colaborar muito nestes aspectos. 

Claro que cabe aos profissionais da área orientar as pessoas idosas e fornecer elementos para uma política pública que proporcione vida saudável para todos. No entanto, o papel da família, dos parentes na atenção e carinho para com as pessoas idosas é fundamental. 

No Oriente o idoso tem valor e muito. Ele é importante para a família, é bem cuidado, reverenciado e admirado pelos mais jovens porque a velhice é sinônimo de sabedoria. Em algumas civilizações orientais, graças a uma educação milenar, a população é ensinada desde pequena a ver a importância de ter uma pessoa experiente dentro de casa. Antes de qualquer grande decisão, segundo algumas tradições mais antigas, esses povos não consultam nem os amigos e nem o Google. Eles procuram seus anciãos, porque consideram os seus conselhos sábios e experientes. O filósofo Confúcio (551–479 a. C), apregoava que as famílias deveriam obedecer e respeitar o indivíduo mais idoso.

No Japão, o Dia do Respeito ao Idoso (Keiro no hi) é comemorado, desde 1947, na terceira segunda-feira de setembro, e desde 1966 é feriado nacional. Nesse dia, os japoneses oram pela longevidade dos seus velhos e os agradecem pelas contribuições feitas à sociedade ao longo de suas vidas. Nessa tradição japonesa, ao completar 60 anos, costuma-se presentear o homem com um blazer vermelho porque completou um ciclo, e com seis décadas de vida tem a liberdade de usar a cor dos deuses.

Em países em que a direção foi para o materialismo e a eficiência valorizando apenas o que produz bens de consumo, podemos nos questionar sobre os fundamentos da sociedade que estamos construindo. Falo das leis, da orientação ideológica, do tipo de noticiário e do comportamento do povo com seus pais, mães, tios, avós e bisavós. O tipo de beleza que se difunde na sociedade não tem contemplado a beleza da sabedoria dos anos. Existe um preconceito que se instala em alguns ambientes contra “aquele que nada produz de bens de consumo”, esquecendo dos valores mais importantes da vida humana.

Será por que ele deixou de ser mão de obra qualificada e de ter o maior salário da família? Será por que os gostos deles soam ultrapassados? Mas, o que cargos, beleza e moda importam realmente na vida se são temporários, se vão acabar um dia? Eles são apenas o degrau do crescimento que leva à fase seguinte: a da colheita, do retorno, da tranquilidade... E o idoso que já passou por tudo isso tem uma bagagem imensa, independentemente das rugas e cabelos brancos. O valor do ser humano e sua vida e história têm uma importância enorme na construção do mundo de hoje. Temos a necessidade urgente de voltar a ouvir suas experiências e suas histórias incríveis de vida, de vitórias e derrotas e superação dos problemas. Eles têm muito para contar, para ensinar.

Por  Dom Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ. Texto originalmente publicado no Jornal do Brasil

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