Um grupo de manifestantes seguiu pela Avenida Atlântica, em Copacabana, do
Posto 5 até a Fan Fest, em uma marcha silenciosa marcada apenas por dois bumbos,
na tarde de ontem (29). Muitos usavam mordaça e vestiam camisetas amarelas com o
número -1 e o nome de vítimas do Estado nas favelas – como o pedreiro Amarildo,
Cláudia (arrastada por uma viatura da Polícia Militar) e o dançarino DG. Outras
camisas exibiam Educação e Saúde, com o número zero estampado.
Os manifestantes simularam um jogo de toque bola na rua. Nos cartazes,
dizeres como “pelo direito à livre manifestação”, “não é normal o estado matar
negro e pobre”, “pelo fim do genocídio dos pobres e negros”, “o poder e a força
bruta não vão nós calar” e “pelo nosso direito à cidade”. Também foram lembrados
os nomes Rafael, Caio e Fábio, considerados presos políticos pelos
manifestantes.
O morador de rua Rafael Braga Vieira foi preso durantes os protestos de junho
de 2013, de posse de material de limpeza, mas foi condenado por porte de
artefato explosivo. Caio Silva de Souza e Fábio Raposo estão presos e são
julgados por homicídio triplamente qualificado, após terem acendido o rojão que
atingiu e matou o cinegrafista Santiago Andrade, em fevereiro deste ano.
A fotógrafa Paula Kossata explica que começou a acompanhar as manifestações
relacionadas à Aldeia Maracanã em 2012 e acabou aderindo às causas das ruas por
causa da repressão sofrida pelos manifestantes. Segundo ela, os movimentos
sociais estão sendo criminalizados, e o país vive um regime de exceção.
Para a ativista, o país passa por uma situação na qual quem deveria proteger
a população a agride. “A polícia deveria proteger o povo, mas acaba virando
inimigo. A polícia, assim como os políticos, são nossos funcionários e estão ali
para proteger a gente, mas é só levantar um cartaz que você é criminalizado. Até
o nosso templo do futebol, o Maracanã, foi sequestrado do povo, privatizado, e o
povo não tem mais acesso”, acrescenta.
Paula destaca que a manifestação é pacífica, mas enfática quanto aos
objetivos: “Precisamos de um momento mais pesado, de luto. Não adianta fazer ato
lúdico, rodar bambolê na frente deles. Precisamos ser enfáticos em relação à
violência policial”.
Na concentração do ato, um major da Polícia Militar aproximou-se dos
manifestantes para pedir informações sobre o trajeto e objetivos do protesto.
Ele também disse que a corporação acompanharia a marcha para garantir a
segurança deles e da população. A advogada Eloisa Samy aproveitou para pedir
apoio à força policial.
“Pedimos o auxílio de um pequeno número de policiais, nada ostensivo, três
homens, a fim de evitar que pessoas de fora da manifestação nós hostilizem,
porque isso tem sido bastante comum e acirra os ânimos, causando tumulto e
confusão”, explicou a advogada. Eloísa foi uma das pessoas envolvidas com
manifestações intimadas pela polícia a dar explicações às vésperas da Copa. Para
ela, a ação foi uma forma de intimidar os ativistas e dispersar os atos.
“Expediram um mandado de busca e apreensão para equipamentos de informática e
com acesso à internet, mas levaram capacete de moto, meus cintos, por serem
pretos, meu bastão de softball, que está apreendido. Levaram coisas que
estavam fora do escopo do mandado, como máscara contra gases, óculos de
proteção. Não é só para intimidar, mas para obrigar o grupo a se dispersar e
criar uma situação de conflito. Isso tem sido feito cotidianamente”, reclamou
Eloísa.
Por Akemi Nitahara – Repórter da Agência
Brasil Edição: Wellton Máximo
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