Há algumas coisas nesta vida que carregam consigo uma
dificuldade inerente em termos de definição. Os alemães estão sempre na ponta do
progresso filosófico por desenvolverem expressões idiomáticas que nomeiam o que
outras línguas não conseguem. As abstrações também ganham nomes precisos no
nosso português. “Saudade”, por exemplo, ganhou fama. Mas mesmo existindo as
palavras, fica difícil traduzi-las, explicá-las, torná-las próximas do
entendimento do senso comum. Os dicionários se apequenam em verbetes
lastimáveis.
Há casos belos e singulares. Como o de Cecília Meireles
ao falar de liberdade: “é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há
ninguém que explique e ninguém que não entenda”. Assim como liberdade, o terreno
dos sentimentos é pródigo em apresentar-se como um desafio para as mentes
poéticas. Caetano Veloso é mestre em por no papel situações tidas como
indizíveis.
Mas com “amor” é diferente. Não é que não se diga ou
explique. É justamente o inverso: o amor tem explicações e definições
demasiadas. Do simplório “frio na barriga” até a lusitana “dor que desatina sem
doer”, o amor passeia entre metáforas, dogmas religiosos, imagens oníricas,
filmes pornôs e ideais românticos. O pior: não é só um, mas vários: de mãe, de
filho, de amante, de Deus, de amigo, de irmão, de profissão, de time de
futebol.
Não dá sequer pra perguntar qual o interesse do amor.
Alguns vão reclamar que o “amor verdadeiro” é desinteressado. E se paramos pra
pensar o que significa “verdadeiro” aprofundaremos escalas e caminhos desse
labirinto. Porque escrever sobre amor é tarefa de extensão indefinida, cegueira
sem rumo, poço sem fundo. Não à toa é assunto infindo qual a morte. E não
ironizem e me peçam pra dissecar o que seria “morrer de amor”.
Por isso mesmo amor não se ensina. Aprende-se a amar
errando, tateando, dando cabeçadas, acertando quando em vez. Erra-se por si
mesmo ou pelo outro, nos enganamos ou gozamos e nos alegramos por acaso ou por
certeza. Escrevo sobre isso porque hoje meu amor faz anos. Queria deixá-la com
algo que lhe apertasse o coração de mulher agora e no futuro.
Queria confessar a ela, em meio a este caldo complexo,
que não imagino ainda como fazer para precisar o que o amor de fato representa.
Mas que não me enxergo nesta vida sem a presença dela. Sem o seu corpo, seu
espírito sorridente e sua palavra. Que, por enquanto, para definir o que é amor,
nesta peleja diária entre dois seres, o seu próprio nome me
basta.
Por Demétrio Andrade, Jornalista e Sociólogo. No Jornal O Estado
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