Pesquisa do IBOPE não divulgada na época, dava 70% de aprovação a João Goulart um dia antes do golpe
João Goulart, em comício na Central do Brasil (RJ):
presidente foi tirado do poder há 50 anos.
Pelos números levantados, Jango, como Goulart também era conhecido, ganharia
as eleições do ano seguinte se elas tivessem ocorrido. Entrevistas realizadas na
cidade de São Paulo na semana anterior ao golpe mostravam que quase 70% da
população aprovavam as medidas do governo.
Em alusão aos 50 anos do golpe de 1964, a Câmara dos Deputados promoverá uma
sessão solene nesta terça-feira (1º) para homenagear a
resistência à ditadura militar.
Pesquisa contradiz militares
O professor Luiz Antônio Dias, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que uma das pesquisas do Ibope, desconhecida durante 40 anos, havia sido encomendada pela Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio), que fazia oposição a Jango. O especialista destaca que o levantamento derruba uma das justificativas dos militares para tomarem o poder em 1964: a de que o governo de João Goulart era frágil e impopular.
O professor Luiz Antônio Dias, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que uma das pesquisas do Ibope, desconhecida durante 40 anos, havia sido encomendada pela Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio), que fazia oposição a Jango. O especialista destaca que o levantamento derruba uma das justificativas dos militares para tomarem o poder em 1964: a de que o governo de João Goulart era frágil e impopular.
Muitos historiadores, até dez anos atrás, ainda tinham essa ideia de que
Goulart caiu porque era frágil, não tinha o apoio dos partidos e, sobretudo, da
população", comenta Dias.
Radicalização ideológica
Historiador da Universidade de Brasília (UnB), Antonio Barbosa ressalta o clima de polarização ideológica que o País vivia. Para os opositores, Jango representava uma "ameaça comunista". "A partir de 1963, cria-se um quadro de crescente radicalização: a Igreja Católica, o empresariado, as Forças Armadas e a imprensa vão assumir uma posição contrária às reformas defendidas por Jango, identificadas como a ‘comunização’, a ‘esquerdização’, a ‘bolchevização’ do Brasil", explica.
Arquivo/ Leonardo Prado
Bolsonaro defende militares: "Sociedade queria afastar
fantasma da ditadura do proletariado".
Mas para o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), o perigo comunista era real:
"Estávamos à beira de ser implantada aqui a ditadura do proletariado. Os
empresários e a igreja queriam que os militares assumissem o poder. Ou seja,
toda sociedade queria afastar o fantasma da ditadura do proletariado que estava
presente em nosso país."
Já o deputado Chico Alencar (Psol-RJ) acredita que a população foi
manipulada: "Criou-se a ideia de que o Brasil estava em um caos total, que Jango
queria implantar o comunismo. Era a época da ‘guerra fria’, da forte polarização
entre União Soviética e Estados Unidos, e acabaram fazendo uma manipulação
grosseira para influenciar a opinião pública."
Imprensa
O professor Luiz Antônio Dias vai além e diz que a grande imprensa participou da articulação do golpe militar. Segundo ele, esse movimento inclui todos os maiores jornais da época, como: Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.
O professor Luiz Antônio Dias vai além e diz que a grande imprensa participou da articulação do golpe militar. Segundo ele, esse movimento inclui todos os maiores jornais da época, como: Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.
Na opinião de Alencar, população foi manipulada para
acreditar que Jango queria implantar o comunismo.
"Eram recorrentes matérias ou editorais vinculando o governo aos comunistas.
Não me lembro de ter visto nenhuma afirmação direta de que Goulart fosse
comunista, mas era muito comum, por exemplo, atribuir ao Ministério da Educação,
um programa comunista, como a criação de cartilhas para doutrinar nossos
jovens", informa. "Outra situação relativamente comum, tanto na Folha quanto no
Estadão, era a preocupação com a possibilidade de Goulart dar um golpe para se
manter no poder", completa.
Dias lembra que o jornal A Última Hora, que apoiava o governo Jango,
sofreu boicote de anunciantes e foi à falência, até ser comprado pela Folha
de S.Paulo.
Da Agência Câmara
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