O ano começou com projeções modestas de crescimento para o PIB brasileiro.
Segundo a sondagem Focus, do Banco Central, a mediana das projeções de PIB para
2014 está em 1,90%. É a expectativa mais baixa (junto com 2003) feita num início
de ano desde que a pesquisa começou, em 2001.
O conservadorismo das projeções está relacionado à percepção de que o
crescimento brasileiro está menos dependente de impulsos de curto prazo e mais
vinculado às restrições estruturais. Em outras palavras, mesmo que o governo
tente incentivar a economia com medidas monetárias e fiscais de estímulo à
demanda, restrições do lado da oferta dificultarão o crescimento do PIB. É o que
parece ter acontecido no Brasil nos últimos dois anos.
Essas restrições estão fundamentalmente ligadas à competitividade do país.
Quais são os problemas? Uma maneira de responder a essa pergunta é examinando os
resultados do Ranking Global de Competitividade, elaborado pelo World Economic
Forum. O estudo faz uma detalhada comparação de indicadores-chave para a
competitividade entre mais de uma centena de países do mundo.
O resultado do ranking 2013/2014 mostra um quadro não tão ruim para o país.
Entre 148 países, estamos na 56ª posição, recuando frente à 48ª posição que
ocupávamos no ranking 2012/2013. Na América Latina, estamos atrás apenas do
Chile (que está na 34ª posição) e do México (55ª). Entre os membros do Bric,
estamos atrás apenas da China (29ª colocada). Por essa comparação, não
deveríamos estar preocupados com nosso status, conquistado nas últimas décadas,
de importante destino dos investimentos das empresas multinacionais.
No entanto, quando entramos nos detalhes do estudo, notamos algumas
peculiaridades do Brasil. A composição do ranking leva em consideração 12
pilares da competitividade, que vão desde instituições e infraestrutura até o
grau de sofisticação das empresas e sua capacidade de inovar. Estamos mal
posicionados em requisitos básicos, como infraestrutura, instituições e saúde e
educação da população. Adicionalmente, nossos mercados – de bens e de trabalho –
são percebidos como pouco eficientes – a alocação dos recursos não é feita da
forma mais produtiva. Em particular, no pilar “eficiência do mercado de bens”,
ficamos na 123ª posição, nossa pior colocação no estudo.
O que nos faz escalar no ranking geral é o pilar “tamanho de mercado”. Com
200 milhões de habitantes (leia-se, consumidores em potencial) e dimensões
continentais, o mercado brasileiro é muito atraente. Estamos na posição número 9
nesse quesito, o que puxa bem nossa média geral para cima.
Outro destaque do Brasil está no pilar “sofisticação dos negócios”. Estamos
na 39ª posição, o que sugere que temos empresas boas, com capacidade de produzir
com alta qualidade. A quantidade e a diversificação das empresas brasileiras, de
fato, chamam a atenção. O país conta com aproximadamente 18 mil empresas médias
e grandes, muitas vezes mais do que países semelhantes, como México e Argentina.
Temos cadeias de produção completas dentro de nossas fronteiras, com uma grande
quantidade de fornecedores em cada estágio da cadeia. Isso traz ganho de
eficiência para a produção local.
A conclusão é que, se focarmos os pontos básicos da competitividade,
poderemos tranquilamente retomar o investimento e o crescimento acelerado. É
possível melhorar a infraestrutura. Não é trivial aumentar o tamanho do mercado.
Ou seja, se fizermos a lição de casa, estaremos sempre em vantagem frente a
nossos competidores.
Os pontos críticos apontados pela pesquisa do World Economic Forum são
infraestrutura, complexidade da carga e da regulação tributária, capacitação da
mão de obra. Esses temas estão ganhando o debate público e já direcionam ações
de política pública. É importante que mantenhamos essa agenda nos próximos
anos.
Por Caio Megale, economista formado pela USP e com mestrado na PUC-Rio
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