Em evento chamado "Macroeconomia em Pauta", os economistas do Itaú Unibanco,
Ilan Goldfajn e Aurélio Bicalho, destacaram que a economia mundial deve
continuar se recuperando, mas avaliou que o cenário para o Brasil continua
complicado.
Sobre o cenário global, os economistas destacaram que, apesar dos dados
recentes mais fracos dos Estados Unidos e uma preocupação com crédito na China,
a recuperação da economia global irá continuar. A América Latina deve se
beneficiar do crescimento global, desde que os juros internacionais não subam
rápido demais, avaliam, com exceção da Argentina, em maior grau, e do Brasil.
Por outro lado, as condições financeiras mais apertadas geram o maior risco.
Ilan aponta que o cenário de depreciação em 2014 é diferente do ano passado,
com os riscos para o Brasil sendo menores em um cenário de crise nos emergentes
- uma vez que a economia é relativamente fechada, posição de reservas e a
dívida externa confortável - do que em um cenário de
aperto monetário mais rápido nos EUA.
Em relação ao gigante asiático, o sistema bancário paralelo - os chamados
shadow bankings - gera preocupação, uma vez que veem o seu volume de crédito se
expandir, o que gera dúvidas sobre a qualidade dos empréstimos. Porém, a
situação parece estar sob controle, avalia Ilan.
Neste cenário, para o mundo, os economistas do Itaú apontam para um
crescimento de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014, após um crescimento
de 2,8% no ano anterior. No caso dos EUA, o crescimento deve ser de 3%, com
aceleração em relação ao ano de 2013, quando deve subir 1,9%.
Meta fiscal: difícil de ser alcançada
Para a economia brasileira, que terá o seu PIB de 2013 divulgado na quinta-feira (27), o ano não deve ser dos melhores. A expectativa é de retomada, mas gradual, após a queda no mês de dezembro, em que foi bem abaixo do esperado. Com isso, a economia deve se recuperar em janeiro, mas em um movimento de ajuste, e não de retomada, aponta.
O economista-chefe do Itaú Unibanco destacou que são grandes as chances de um
rebaixamento pelas agências de classificação de risco, mesmo que "não
necessariamente neste ano".
A situação das contas fiscais é uma das razões para o rebaixamento, aponta
Ilan, avaliando que dificilmente o governo do Brasil entregará o superávit
primário. Na semana passada, o governo divulgou uma meta de superávit de 1,9% em
relação ao PIB e um contingenciamento de R$ 44 bilhões, o que foi bem recebido
pelo mercado. Contudo, dificilmente a meta será cumprida, aponta o
economista.
Segundo o Itaú, o governo só deve "economizar" 1,3% do PIB e só deve alcançar
essa marca se as despesas do governo crescerem não mais do que 4% do PIB. Caso
queira atingir a meta fiscal, o governo teria que conter ainda mais o
crescimento das despesas para algo ao redor de 3% ao ano. Esse crescimento baixo
das despesas só ocorreu em 2003, quando os gastos tiveram alta de 1,3% em meio a
um cenário de ajuste após a crise de confiança de 2002. Caso se atinja a meta,
ela virá das receitas extraordinárias e, mesmo assim, "será extraordinário
alcançar 1,9%".
Porém, as suas estimativas podem ser reajustadas à medida que o governo for
entregando as metas fiscais. "Nada é mais importante do que entregar o ajuste
fiscal", apontou o economista mas também destacando que, no mais longo prazo, o
que realmente deve importar é o crescimento econômico sustentado.
Para 2014 o cenário não é animador, com um crescimento esperado de 1,4%, mas
com uma recuperação nos próximos anos. O investimento deve registrar
desaceleração, enquanto o desemprego deve seguir baixo em função da menor
procura por emprego.
Com relação à inflação, a expectativa é de que o IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) se acelere em 2014 para 6,2%, ante os 5,91% no ano passado. O
mercado de trabalho menos apertado, o reajuste menor do salário mínimo e alguma
acomodação da demanda deve diminuir a inflação do setor de serviços, enquanto a
alimentação no domicílio deve se beneficiar das condições de oferta mais
favoráveis.
Por outro lado, não há espaço fiscal para novas reduções de tarifas nos
preços administrados, que deve registrar aceleração para 4,7% em 2014. O
economista acredita ainda em um novo aumento da gasolina em novembro.
Por Lara Rizério, do Infomoney
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