O curioso caso do helicóptero que transportava 445 kg de pasta base
de cocaína fez o nome da família Perrella voltar às páginas dos jornais.
Depoimentos preliminares do piloto, do senador Zezé e do deputado Gustavo,
dono da aeronave, apontam que a droga pertence… ao helicóptero! Intrigante.
Enquanto o helicóptero não apresenta sua versão, vale relembrar parte do
legado dos Perrella para a sociedade e o futebol mineiro:
• Após uma dinastia de 17 anos, revezando-se com irmão Alvimar no poder do
Cruzeiro, Zezé deixou o clube em 2011 à beira do rebaixamento e um rombo de mais
de 30 milhões de reais nas finanças.
• Em julho do mesmo ano, ele havia assumido uma cadeira no Senado depois da
morte de Itamar Franco, com salário de 26 723 reais. Remuneração insuficiente
para fazê-lo atuar com vigor no Congresso. Passou mais de um mês desfrutando
da boa vida de suplente.
• Além de ter usado o Cruzeiro como plataforma eleitoral, deu uma mãozinha
para o filho Gustavo, que foi nomeado vice de futebol no fim de 2009, posou ao
lado de reforços e simplesmente desapareceu do clube depois de ser eleito
deputado estadual em 2010.
• O feito mais notório de Gustavo na Toca da Raposa foi ter fechado uma
parceria com o Nacional de Nova Serrana. Coincidência ou não, a cidade tornou-se
seu segundo maior reduto eleitoral depois de Belo Horizonte, onde conquistou 6
300 votos.
• Na Assembleia, Gustavo utilizou sua posição para agradar apoiadores de
longa data do pai. Empregou o atual vice-presidente do Cruzeiro, José Maria
Queiroz Fialho, em seu gabinete, com salário superior a 5 000 reais. Fialho, a
propósito, é sócio do tio Alvimar em uma empresa do setor alimentício.
• A prática de empregar conhecidos era comum na gestão de Zezé Perrella no
Cruzeiro. Um de seus apadrinhados mais conhecidos foi o ex-diretor de futebol
Dimas Fonseca, que recebia aproximadamente 90 000 reais do clube. Não por acaso,
o gasto celeste com funcionários bateu recordes em sua administração: 60 milhões
de reais por ano.
• Sobre apadrinhamentos, Perrella disse à revista PLACAR em 2012: “Eu não
faço média. Prefiro colocar uma pessoa em quem eu confio para trabalhar
comigo”.
• Durante os últimos quatro anos sob gestão de Zezé, a dívida do Cruzeiro
subiu de 85 para 112 milhões de reais. Embora conseguisse arrecadar mais de 30
milhões por ano com venda de jogadores, seu mantra no futebol, o cartola não
conseguiu evitar déficits anuais em cifras igualmente graúdas. De quebra, saiu
para o Senado como o maior fiador do clube, depois de avalizar em seu nome cerca
de 30 milhões de reais em empréstimos. Ainda assim, ele declarou à Justiça
Eleitoral ter um patrimônio de 500 000 reais.
• Quando assumiu o cargo de senador, Perrella acumulava três inquéritos: um
por suspeita de lavagem de dinheiro na venda do zagueiro Luisão, em 2003, e
outros dois por suposta ocultação de patrimônio, já que, juntamente com os
filhos, é dono de uma fazenda no interior de Minas avaliada em 60 milhões de
reais.
• Deputado estadual entre 2007 e 2010, Zezé gastou pelo menos 26 000 reais em
verba de gabinete para abastecer dois de seus jatinhos particulares, segundo
levantamento de O Globo. Nesse período, também foi um dos parlamentares mais
ausentes da casa: 89 de 101 reuniões.
• Como dirigente, liderou a implosão do Clube dos 13, em comunhão com o
ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Recentemente, atuou como lobista no
Senado para a retirada de assinaturas do requerimento de CPI para investigar as
contas da Confederação.
• Dias antes, ele havia batido à porta da entidade, acompanhado do também
senador e cruzeirense Aécio Neves – um antigo aliado, que o fez até esquecer a
rivalidade com o Atlético nas eleições. Eles apelaram por efeito suspensivo da
punição imposta pelo STJD, que impediria o Cruzeiro de jogar no Mineirão em
contra o Grêmio pelo Brasileirão. Foram atendidos.
E, depois de todo esse esforço da família Perrella pelos mineiros, ainda há a
possibilidade de Zezé sair candidato a governador do estado em 2014 – mas, se a
confissão de culpa do helicóptero ainda render pano para a manga, o plano de voo
pode ir pelos ares.
Por Breiller Pires, jornalista que cobre o futebol mineiro para a revista Placar
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