Pular para o conteúdo principal

Trabalho, investimento e desemprego no Brasil

Apesar da recente desaceleração do processo de geração de emprego, o Brasil ainda enfrenta o problema da falta de mão de obra decorrente do atual modelo de consumo e da nova dinâmica demográfica.

O modelo de consumo se baseou até aqui no aumento do poder de compra de classes de renda mais baixas, que passaram a consumir bens duráveis, inclusive casas populares, e variados serviços, o que aumentou a necessidade de trabalhadores para construção civil,

comércio em geral, educação e saúde, alimentação fora de casa, serviços pessoais, entretenimento e até turismo.

Para atender à nova demanda, foram recrutados muitos empregados, a maioria de baixa qualificação. Mas, por serem escassos, seus salários e benefícios cresceram acima da produtividade, elevando substancialmente o custo unitário do trabalho. Como comércio e serviços, na sua maior parte, estão livres da concorrência de importados - o contrário do que ocorre na indústria -, os aumentos de custo unitário do trabalho foram repassados aos preços, o que explica em grande parte a disparada da inflação dos serviços, que ficou bem acima da inflação geral.

A escassez de mão de obra decorreu também da forte queda da taxa de fecundidade das últimas décadas. Apesar das inegáveis oportunidades proporcionadas pelo bônus demográfico, o Brasil já enfrenta o problema da falta de jovens para trabalhar. Na outra ponta da pirâmide etária há também uma redução dos que têm mais de 60 anos que pararam de trabalhar mais cedo. No conjunto, diminuiu a oferta de pessoas para o trabalho.

No pressionamento da inflação há ainda o papel de outros fatores de natureza trabalhista. A nova regra que exige que os caminhoneiros dirijam quatro horas e

descansem 30 minutos, por exemplo, elevou o custo do frete de produtos agrícolas, rebatendo no preço dos alimentos. Pesaram também aumentos de salários e de benefícios negociados nos supermercados bem acima da inflação e da produtividade.

A inflação dos serviços atingiu também a indústria, pois as fábricas compram inúmeros serviços que tiveram seus preços elevados, como as atividades de conservação e limpeza, manutenção, transporte, contabilidade, recursos humanos e outros. A indústria

foi igualmente pressionada por salários e benefícios mais altos, resultantes da mesma falta de mão de obra e do efeito demonstração dos demais setores. Ali, também o custo do fator trabalho subiu muito mais do que a produtividade, com forte impacto no custo unitário.

Ocorre que os bens industriais enfrentam a concorrência dos estrangeiros - tanto aqui como no exterior -, o que impediu as empresas de repassarem para os preços a elevação do custo unitário do trabalho. Sua única saída foi bancar a elevação do custo do trabalho com o lucro, o que explica em grande parte a redução das margens e a diminuição dos investimentos. De 2010 para 2011, o Brasil caiu do 38.º para o 51.º posto entre 60 países no campo da competitividade.

Vê-se que por trás da disparada da inflação e dos minguados investimentos esteve presente até aqui o fator trabalho, que se tornou escasso, caro e de baixa produtividade.

Bem diferente é o quadro nos países avançados. É verdade que todos eles passam por grave crise. Mas, tanto nos Estados Unidos como na Europa e no Japão, a produtividade do trabalho tem se elevado de maneira expressiva e bem além dos aumentos de salários e benefícios. Na China, os salários aumentaram muito, mas a produtividade é crescente.

Como será difícil contar com uma redução expressiva de salários e benefícios no curto prazo, para o Brasil resta aumentar a produtividade, o que depende da remoção dos conhecidos constrangimentos estruturais e de uma melhoria da qualidade da educação.

Só assim podemos aspirar a chegar a uma economia realmente competitiva.

Por José Pastore

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Pesquisa Vox Populi mostra o Haddad na liderança com 22% das intenções de votos

Pesquisa CUT/Vox Populi divulgada nesta quinta (13) indica: Fernando Haddad já assume a liderança da corrida presidencial, com 22% de intenção de votos. Bolsonaro tem 18%, Ciro registra 10%, Marina Silva tem 5%, Alckmin tem 4%. Brancos e nulos somam 21%. O Vox Populi ouviu 2 mil eleitores em 121 municípios entre 7 e 11 de setembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para cima ou para baixo. O índice de confiança chega a 95%. O nome de Haddad foi apresentado aos eleitores com a informação de que é apoiado por Lula. Veja no quadro: Um pouco mais da metade dos entrevistados (53%) reconhece Haddad como o candidato do ex-presidente. O petista, confirmado na terça-feira 11 como o cabeça de chapa na coligação com o PCdoB, também é o menos conhecido entre os postulantes a ocupar o Palácio do Planalto: 42% informam saber de quem se trata e outros 37% afirmam conhece-lo só de nome. O petista chega a 31% no Nordeste e tem seu pior desempenho na região Sul (11%), mesmo

humorista Marcelo Adnet mostra que a maioria das pessoas que condenam a corrupção é corrupta

Você abomina corrupção, certo? Mas será que nunca furou fila no banco, estacionou em vaga de deficiente, não devolveu o dinheiro do troco errado que recebeu, ‘molhou’ a mão de agentes de trânsito para não ser multado, falsificou uma carteirinha de estudante para pagar meia-entrada ou fez um retorno na contramão? São esses episódios do dia a dia do brasileiro que o humorista Marcelo Adnet aborda no Musical do  Jeitinho Brasileiro  ( assista ao vídeo completo aqui ), um dos esquetes exibidos na Rede Globo nesta terça-feira (19), na estreia da nova temporada do programa  Tá No Ar, programa capitaneado pelo próprio Adnet. “Eu deixo uma cerveja [propina] que é pra não pagar fiança. É a vida: corrompida e corrompida”, diz o início da música – uma versão de  O Que é, o Que é,  de Gonzaguinha. “A lei diz que, quando entrar um idoso tenho que levantar. Mas finjo que não vejo a velhinha, fecho o olho e dou aquela dormidinha”, diz outro trecho da esquete. Com boa dose de ironia, o humo

A atriz Marieta Severo rebate Fausto Silva no programa do apresentador sobre a situação do Brasil

O próximo empregado da Globo a sofrer ameaça de morte, depois de Jô Soares, será Marieta Severo. Pode anotar. Marieta foi ao programa do Faustão, uma das maiores excrescências da televisão mundial desde a era peleozóica. Fausto Silva estava fazendo mais uma daquelas homenagens picaretas que servem, na verdade, para promover um programa da emissora. Os artistas vão até lá por obrigação contratual, não porque gostem, embora todos sorriam obsequiosamente. O apresentador insiste que são “grandes figuras humanas”. Ele se tornou uma espécie de papagaio do que lê e vê em revistas e telejornais, tecendo comentários sem noção sobre política. Em geral, dá liga quando está com uma descerebrada como, digamos, Suzana Vieira ou um genérico de Toni Ramos. Quando aparece alguém um pouco mais inteligente, porém, ele se complica. Faustão anda tão enlouquecido em sua cavalgada que não lembrou, talvez, de quem se tratava. Começou com uma conversa mole sobre o Brasil ser “o país da desesper