“No longo prazo, todos estaremos mortos.” A expressão, atribuída a John Maynard Keynes, é uma das frases feitas mais repetidas quando se fala de economia (a outra é “Não há almoço de graça”). Mas o que é, na prática, o “longo prazo”? Será que nunca chegaremos lá mesmo?
Em macroeconomia, o longo prazo pode ser entendido como o momento em que os fatores de produção disponíveis se esgotam e, para que a economia continue crescendo, é necessário contratar mais fatores de produção ou usar os fatores disponíveis de forma mais eficiente. As políticas de curto prazo – monetária, fiscal – que atuam sobre a demanda já não produzem efeito, pois a demanda ocupou a capacidade de oferta. Nessa etapa, tornam-se mais importantes o crescimento da força de trabalho, a capacidade de investimento (que determinam a taxa de crescimento dos fatores de produção) e a produtividade (que determina a maneira de transformar os fatores em produto).
Dessa forma, apesar de sempre parecer algo distante, o “longo prazo” pode chegar. E há indícios de que ele chegou para o Brasil. Entre 2004 e 2010, o país cresceu puxado pela demanda e foi ocupando seus fatores disponíveis. A mão de obra, antes abundante e barata, hoje é cara e difícil de ser encontrada. A infraestrutura, antes parcialmente ociosa (ainda que de qualidade mediana), hoje está ocupada. Os estímulos à demanda já não produzem um crescimento da economia como um todo: nos últimos dois anos, as vendas no varejo cresceram mais de 15% (acima da inflação), enquanto a produção industrial praticamente não avançou.
A escassez de fatores de produção em meio à demanda ainda aquecida pressiona os custos. Há tempos o Brasil deixou de ser um low-cost country. Custos de produção elevados converteram-se no maior problema das empresas instaladas no país, o que vem tornando o Brasil menos atraente para novos investidores.
Devíamos acumular mais fatores de produção. Mas isso não é imediato. Os investimentos no Brasil são limitados por falta de poupança doméstica, o que só se resolve com reformas estruturais, que levam tempo para serem discutidas, aprovadas e executadas. O programa do governo de concessões de infraestrutura ao setor privado é ousado e bem desenhado, mas enfrenta problemas de implementação, além de demandar tempo para que tudo fique pronto.
O fator de produção “mão de obra” é ainda mais complicado. Depende da taxa de crescimento da força de trabalho, que, por sua vez, depende de fatores que se movem pouco, como a taxa de fecundidade. E aqui as notícias não são alvissareiras: nosso boom demográfico está ficando para trás; a taxa de crescimento da população deve ser bem menor nas próximas décadas.
Resta, então, a produtividade. É preciso tornar a economia brasileira mais eficiente para retomar o crescimento econômico. Essa realidade já vem mudando o comportamento das empresas, que hoje investem mais na melhora da qualidade da operação do que em expansão. Programas de eficiência proliferam pelos mais diversos setores da economia. E os cortes de custos vêm se tornando, mais do que uma estratégia de administrar a empresa, uma questão vital.
O “longo prazo” chegou, e estamos vivos. Ou nos tornamos mais produtivos, ou continuaremos crescendo pouco.
Por Caio Megale, economista
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