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O câmbio deve ficar no nível que ajude no crescimento do PIB

Toda a agitação que tomou conta dos mercados financeiros durante a semana é porque o mundo está acordando para a profundidade dos problemas do câmbio, cujos efeitos atingem mais dramaticamente os países com déficits crescentes em conta corrente. É o caso de importantes economias asiáticas, como a Índia e a Indonésia, que tiveram queda vertiginosa no volume (e na renda) das exportações por causa da desaceleração chinesa e com a reversão dos ingressos de capitais, intensificada após o anúncio do FED sobre a possibilidade de mudança da política monetária americana. Mas a agitação já contagia os mercados em quase todo o Sudeste Asiático, ameaçando a Malásia e piorando a situação na Tailândia, que entrou em recessão.

Essa turbulência nos mercados de câmbio provavelmente vai nos atingir, mas, por enquanto, não vejo que possa nos causar problemas maiores, porque temos uma boa reserva, e deixar o câmbio flutuar é a resposta correta. Creio que o ajuste no câmbio não vai nos trazer sofrimento, porque ajustar o câmbio será como pagar o preço daquelas tolices que fizemos ao permitir a supervalorização do real, produzida pelo exagero das intervenções no câmbio nominal, quase destruindo a indústria nacional.

Aliás, no início da semana, o Banco, Central (BC) divulgou nota oficial informando que “a autoridade monetária está atenta ao realinhamento global das moedas e não deixará de ofertar proteção (hedge cambial) aos agentes econômicos e, se necessário, liquidez aos diversos segmentos do mercado”.

Foi o que fez ao longo da semana, oferecendo liquidez, não para controlar o nível da taxa de câmbio, mas para evitar o excesso de volatilidade no mercado. Alguns movimentos exacerbados haviam sido observados nos dias antecedentes nos mercados de juros e câmbio, pressionando a desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar. Na mensagem, o presidente do BC, Alexandre Tombini, citou os exageros nos mercados de juros e câmbio e afirmou de forma incisiva que “os movimentos recentes observados nas taxas de juro de mercado incorporam prêmios excessivos”. A nota termina com um alerta quanto “ao risco de perdas para os que apostam em movimentos unidirecionais da moeda”.

O câmbio é uma variável da maior importância para o desenvolvimento econômico de qualquer país. É muito difícil controlar a cotação do câmbio, tanto na ida quanto na volta: ela tende a subir até atingir um determinado nível, depois vai se acomodando e volta lentamente.

Pode-se atribuir parcela significativa dessa confusão cambial mundial à infeliz comunicação do presidente do Banco Central dos EUA, Ben Bernanke, insinuando a possibilidade de “abreviar” (para setembro, agora!) o fim da política monetária expansionista americana, o que posteriormente procurou descaracterizar, mas com o estrago já feito. O que o mercado quis entender foi “vocês se preparem: a taxa de juros aqui vai subir e o movimento de capitais para os demais vai sumir”, o que valorizou o dólar e empurrou a taxa de juros americana para o alto, produzindo o movimento de desvalorização das demais moedas.

Essa variação que está havendo hoje no Brasil é um movimento na direção correta. Acredito que não vamos sofrer por isso. É de fundamental importância manter uma política cambial adequada que dê sustentação aos investimentos nos setores da atividade econômica de vocação exportadora, pois é de onde se pode esperar a retomada do desenvolvimento com mais rapidez e dinamismo.

Houve uma mudança importante na cultura do governo, tanto na esfera política quanto na área econômica. Desvios foram corrigidos. A presidenta Dilma Rousseff multiplicou os contatos para restabelecer a harmonia com o Poder Legislativo, sem ressentimentos. E está levando seu governo a apostar mais numa postura pró-mercado, em lugar de uma cultura pró-negócio, mostrando que adotou uma posição diferente da que vinha tendo no relacionamento com o mundo empresarial. Este ainda se mostra preocupado porque tem uma percepção incompleta, pequena, do que aconteceu nesses últimos 45 dias, uma mudança na direção certa.

Por Delfim Netto

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