Pular para o conteúdo principal

As reformas política e eleitoral precisam ser repensadas para atender ao que o povo necessita

Não é de hoje que se fala em reforma política e reforma eleitoral e agora após variadas agitações urbanas, que deram feições novas à mesmice habitual das muitas cidades, praticamente em todos os Estados; em consequência o Congresso teve pressa em adotar medidas no que tange à tramitação parlamentar ou ao funcionamento do Poder Legislativo, até onde vai o meu conhecimento do assunto, à luz do que foi divulgado, as questões que despertaram a atenção congressual nem de longe resultaram da experiência acumulada, tanto assim, que jamais haviam sido arroladas como desnecessárias ou inconvenientes; parece terem sido uma espécie de tributo pago aos noticiários do dia, que estariam a indicar velharias intoleráveis.

Dou um exemplo: passando os olhos pela Constituição, vejo que em dúzia de vezes nada se lê que nos casos que indicam votação da Câmara ou do Senado, seria tomada em escrutínio secreto. Seria de indagar porque tradicionalmente a norma Constitucional exige que a decisão se desse mediante votação secreta. A regra geral era no sentido das decisões parlamentares, fossem públicas; excepcionalmente elas haveriam de ser "em escrutínio secreto".

Os casos excepcionais são poucos creio não passariam de meia dúzia e, em sua maioria, em favor do Legislativo e no sentido de limitar o Executivo. E teriam sido apagados todos os casos de votação secreta, na Câmara e no Senado. Todos. Dou um exemplo: O voto a projeto de lei, mesmo que aprovado pela maioridade da Câmara e do Senado, só pode ser rejeitado pela maioria absoluta dos deputados e senadores, em escrutínio secreto". Por que? Para que o Executivo, com todas suas múltiplas ramificações, não poderiam pressionar parlamentares, a lei cuida de assegurar a votação secreta, como se não bastasse a maioria absoluta, ou seja, a maioria da Câmara e do Senado. O expediente é eficaz? Não sei, sei apenas que busca assegurar aos parlamentares plena independência ao votar, como sei que a lei pode muito mas não pode tudo.

Fico por aqui no que tange à reforma política e passo à reforma eleitoral. Parece que o ato congressual foi a abolição dos suplentes ou do segundo suplente. Diga-se de passagem, que nem sempre houve a figura do suplente de senador e quando vagava o Senado, por uma renúncia ou perda de mandato, ou pela nomeação para ministro de Estado, deveria haver eleição para preencher a vaga, até porque dado o número de senadores em consequência obrigatória da Federação e da igualdade dos Estados, embora fossem grandes ou pequenos, populosos ou de baixa população os Estados. Foi a Constituição de 34 que instituiu a figura do suplente para substituir o titular em caso de impedimento ou sucedê-lo em caso de vacância. De resto, nunca se questionou sua conveniência. Eliminar o suplente como necessidade a justificar uma reforma eleitoral, a meu juízo, é um contrassenso. A verdade é que a Constituição é expressa: "cada Senador será eleito com dois suplentes". Embora a solução consagrada não seja um dogma uma coisa é certa, a sua eliminação não justifica uma reforma eleitoral.

Um pormenor que não pode ser omitido é que o nosso sistema eleitoral é um dos segmentos que mais tem se aperfeiçoado, em anos sucessivos. Em verdade, se durante o Império as eleições não eram modelares e a adoção da eleição direta implantada quando o Conselheiro Saraiva era o presidente do Conselho representou um progresso histórico, foi constante a preocupação do Imperador no sentido de aprimorar o sistema vigente. Adotada a República os abusos se multiplicaram. É de lembrar-se, desde logo, ser então estadual a legislação eleitoral e isso ensejava demasias ainda mais nocivas. O certo é que o Partido Republicano, embora em crescimento, estava longe de competir com o Liberal e o Conservador.

A propósito, lembro na última eleição realizada no segundo reinado, os republicanos elegeram apenas três deputados, como é sabido Campos Salles era um deles. Nesse quadro os republicanos beneficiados com a surpresa de 15 de novembro temiam que os antigos monarquistas aderindo à República pudessem facilmente assumir os postos de direção. Por mera reminiscência recorde-se que Rodrigues Alves e Afonso Pena, um conservador e o outro liberal, vieram a ser eleitos presidentes da República no primeiro decênio do século 20.

De qualquer sorte parece-me oportuno ressaltar que a despeito dos muitos acidentes institucionais que macularam a história da Nação, é forçoso reconhecer que a Justiça Eleitoral permaneceu incólume, nos 20 anos de bastardia republicana e democrática. E, além disto, é inegável que a partir do longo período do Estado Novo, foram vários os aperfeiçoamentos aditados ao Código Eleitoral como a adoção da cédula oficial, o acesso ao rádio e à televisão gratuitos, a participação no fundo partidário e a urna eletrônica.

De modo que o risco da reforma projetada importar em clamoroso retrocesso não me parece hipótese gratuita.

Por Paulo Brossard, jurista e ministro aposentado do STF

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Pesquisa Vox Populi mostra o Haddad na liderança com 22% das intenções de votos

Pesquisa CUT/Vox Populi divulgada nesta quinta (13) indica: Fernando Haddad já assume a liderança da corrida presidencial, com 22% de intenção de votos. Bolsonaro tem 18%, Ciro registra 10%, Marina Silva tem 5%, Alckmin tem 4%. Brancos e nulos somam 21%. O Vox Populi ouviu 2 mil eleitores em 121 municípios entre 7 e 11 de setembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para cima ou para baixo. O índice de confiança chega a 95%. O nome de Haddad foi apresentado aos eleitores com a informação de que é apoiado por Lula. Veja no quadro: Um pouco mais da metade dos entrevistados (53%) reconhece Haddad como o candidato do ex-presidente. O petista, confirmado na terça-feira 11 como o cabeça de chapa na coligação com o PCdoB, também é o menos conhecido entre os postulantes a ocupar o Palácio do Planalto: 42% informam saber de quem se trata e outros 37% afirmam conhece-lo só de nome. O petista chega a 31% no Nordeste e tem seu pior desempenho na região Sul (11%), mesmo

humorista Marcelo Adnet mostra que a maioria das pessoas que condenam a corrupção é corrupta

Você abomina corrupção, certo? Mas será que nunca furou fila no banco, estacionou em vaga de deficiente, não devolveu o dinheiro do troco errado que recebeu, ‘molhou’ a mão de agentes de trânsito para não ser multado, falsificou uma carteirinha de estudante para pagar meia-entrada ou fez um retorno na contramão? São esses episódios do dia a dia do brasileiro que o humorista Marcelo Adnet aborda no Musical do  Jeitinho Brasileiro  ( assista ao vídeo completo aqui ), um dos esquetes exibidos na Rede Globo nesta terça-feira (19), na estreia da nova temporada do programa  Tá No Ar, programa capitaneado pelo próprio Adnet. “Eu deixo uma cerveja [propina] que é pra não pagar fiança. É a vida: corrompida e corrompida”, diz o início da música – uma versão de  O Que é, o Que é,  de Gonzaguinha. “A lei diz que, quando entrar um idoso tenho que levantar. Mas finjo que não vejo a velhinha, fecho o olho e dou aquela dormidinha”, diz outro trecho da esquete. Com boa dose de ironia, o humo

A atriz Marieta Severo rebate Fausto Silva no programa do apresentador sobre a situação do Brasil

O próximo empregado da Globo a sofrer ameaça de morte, depois de Jô Soares, será Marieta Severo. Pode anotar. Marieta foi ao programa do Faustão, uma das maiores excrescências da televisão mundial desde a era peleozóica. Fausto Silva estava fazendo mais uma daquelas homenagens picaretas que servem, na verdade, para promover um programa da emissora. Os artistas vão até lá por obrigação contratual, não porque gostem, embora todos sorriam obsequiosamente. O apresentador insiste que são “grandes figuras humanas”. Ele se tornou uma espécie de papagaio do que lê e vê em revistas e telejornais, tecendo comentários sem noção sobre política. Em geral, dá liga quando está com uma descerebrada como, digamos, Suzana Vieira ou um genérico de Toni Ramos. Quando aparece alguém um pouco mais inteligente, porém, ele se complica. Faustão anda tão enlouquecido em sua cavalgada que não lembrou, talvez, de quem se tratava. Começou com uma conversa mole sobre o Brasil ser “o país da desesper