Pular para o conteúdo principal

O governo já gastou muito com a Copa do Mundo de 2014 e ainda existem fortes vestígios de corrupção

Desde terça-feira, ZH avalia as principais reivindicações expressas nos cartazes dos manifestantes.

"Quando seu filho ficar doente, interne ele num estádio." A sugestão consta em um cartaz que virou slogan nas passeatas que convulsionam o país. Mas, apesar dos gritos de contrariedade nas ruas, tudo indica que o Brasil vai mesmo sediar a Copa em 2014. Deixar de realizar a competição a essa altura do campeonato – com o devido perdão do trocadilho – sairia muito caro.

Se a Fifa decidir cancelar o contrato firmado com o Brasil, em decorrência de protestos, o governo federal terá de pagar à entidade que controla o futebol uma multa de US$ 5 bilhões (R$ 11 bilhões). É mais do que o gasto previsto com os 12 estádios (cerca de R$ 7,6 bilhões). Resta aos manifestantes baixar o tom, resignados?

Nem tanto. A pressão sobre autoridades encarregadas de fiscalização pode diminuir os custos. Quem duvida? Na realidade, os gastos já caíram, por força de seguidas iniciativas do Tribunal de contas da União (TCU), órgão que desde as primeiras licitações acompanha as ações governamentais relacionadas ao evento. Isso devido ao "risco a que essas despesas estão sujeitas", resume o presidente do TCU, o gaúcho Augusto Nardes. Vale lembrar: uma suspeita levantada pelo TCU pode acarretar em investigações pela Polícia Federal e pelo Ministério Público (MP).

A estimativa do tribunal sobre gastos com a Copa é de R$ 25,6 bilhões. São R$ 7,6 bilhões com estádios – o restante irriga obras de mobilidade urbana, aeroportos, segurança pública, portos e telecomunicações. Segundo balanço do Ministério do Esporte, o total já alcança R$ 28,1 bilhões (contando investimento privado em aeroportos).

Há indícios de fraude? Balanço feito em abril pelo próprio TCU afirma que as ações de fiscalização já resultaram em economia em torno de R$ 700 milhões. Ou seja, isso iria pelo ralo, caso o tribunal não apontasse "erros". Nesse montante constam, por exemplo, a redução de R$ 97 milhões no orçamento da reforma do Maracanã e de R$ 65 milhões na reconstrução da Arena Amazonas. O TCU afirma também ter ajudado a poupar R$ 400 milhões em licitação de aeroportos e portos nas cidades-sede, sem paralisar as obras, apenas com trabalho preventivo. No caso do Maracanã, tudo foi repactuado. Junto com o Congresso Nacional, o TCU alimenta o portal www.copatransparente.gov.br, para estimular o controle externo dos gastos.

Dinheiro dos estádios bancaria 8 mil escolas

A grande gritaria popular nem é contra as obras de infraestrutura viária ou aeroportuária, mais palatáveis. É mesmo contra gastos com espetaculares campos de jogo. Os R$ 7,6 bilhões aplicados nos estádios seriam suficientes para custear 8 mil escolas ou 39 mil ônibus escolares ou 128 mil casas populares, calcula a ONG contas abertas (que investiga gastos públicos).

Em recente pronunciamento, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o dinheiro gasto com as arenas é fruto de financiamento às empresas que exploram os estádios. A presidente ressaltou que "jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a saúde e a educação".

Será? O economista Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG contas abertas, diz que a presidente não mentiu, mas esqueceu de mencionar que os financiamentos representam 53% da verba prevista para a construção e reforma das 12 arenas. A outra fatia sai de recursos públicos vindos, em sua maioria, dos Estados e municípios.

E os financiamentos são estatais, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com uma linha específica (ProCopa Arenas) que autorizou R$ 3,8 bilhões para investimentos em estádios. Castello Branco ressalta que esses empréstimos foram "em condições muito especiais de prazos e juros".

Além do BNDES, existem recursos próprios de governos estaduais (R$ 1,5 bilhão), municipais (R$ 14 milhões, em Curitiba) e do Distrito Federal (R$ 1,01 bilhão). De outras fontes provêm R$ 820 milhões. Dos 12 estádios que vão receber os jogos, apenas no Mané Garrincha, em Brasília, não há financiamento, constata Castello Branco. Mas o gasto, superior a R$ 1 bilhão, foi todo bancado pelo governo do Distrito Federal.

O matemático Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, é irônico ao sugerir o que fazer após a Copa em cidades como Manaus e Brasília – sem grandes clubes:

– Acho ótimos esses estádios. Sugiro que neles se plantem orquídeas.

Gil Castello Branco diz que os protestos serão decisivos para minimizar os gastos.

– O grito das ruas é fundamental. O povo deixou de ser figurante e vai fiscalizar.

Por Humberto Trezzi e Marcelo Monteiro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Pesquisa Vox Populi mostra o Haddad na liderança com 22% das intenções de votos

Pesquisa CUT/Vox Populi divulgada nesta quinta (13) indica: Fernando Haddad já assume a liderança da corrida presidencial, com 22% de intenção de votos. Bolsonaro tem 18%, Ciro registra 10%, Marina Silva tem 5%, Alckmin tem 4%. Brancos e nulos somam 21%. O Vox Populi ouviu 2 mil eleitores em 121 municípios entre 7 e 11 de setembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para cima ou para baixo. O índice de confiança chega a 95%. O nome de Haddad foi apresentado aos eleitores com a informação de que é apoiado por Lula. Veja no quadro: Um pouco mais da metade dos entrevistados (53%) reconhece Haddad como o candidato do ex-presidente. O petista, confirmado na terça-feira 11 como o cabeça de chapa na coligação com o PCdoB, também é o menos conhecido entre os postulantes a ocupar o Palácio do Planalto: 42% informam saber de quem se trata e outros 37% afirmam conhece-lo só de nome. O petista chega a 31% no Nordeste e tem seu pior desempenho na região Sul (11%), mesmo

humorista Marcelo Adnet mostra que a maioria das pessoas que condenam a corrupção é corrupta

Você abomina corrupção, certo? Mas será que nunca furou fila no banco, estacionou em vaga de deficiente, não devolveu o dinheiro do troco errado que recebeu, ‘molhou’ a mão de agentes de trânsito para não ser multado, falsificou uma carteirinha de estudante para pagar meia-entrada ou fez um retorno na contramão? São esses episódios do dia a dia do brasileiro que o humorista Marcelo Adnet aborda no Musical do  Jeitinho Brasileiro  ( assista ao vídeo completo aqui ), um dos esquetes exibidos na Rede Globo nesta terça-feira (19), na estreia da nova temporada do programa  Tá No Ar, programa capitaneado pelo próprio Adnet. “Eu deixo uma cerveja [propina] que é pra não pagar fiança. É a vida: corrompida e corrompida”, diz o início da música – uma versão de  O Que é, o Que é,  de Gonzaguinha. “A lei diz que, quando entrar um idoso tenho que levantar. Mas finjo que não vejo a velhinha, fecho o olho e dou aquela dormidinha”, diz outro trecho da esquete. Com boa dose de ironia, o humo

A atriz Marieta Severo rebate Fausto Silva no programa do apresentador sobre a situação do Brasil

O próximo empregado da Globo a sofrer ameaça de morte, depois de Jô Soares, será Marieta Severo. Pode anotar. Marieta foi ao programa do Faustão, uma das maiores excrescências da televisão mundial desde a era peleozóica. Fausto Silva estava fazendo mais uma daquelas homenagens picaretas que servem, na verdade, para promover um programa da emissora. Os artistas vão até lá por obrigação contratual, não porque gostem, embora todos sorriam obsequiosamente. O apresentador insiste que são “grandes figuras humanas”. Ele se tornou uma espécie de papagaio do que lê e vê em revistas e telejornais, tecendo comentários sem noção sobre política. Em geral, dá liga quando está com uma descerebrada como, digamos, Suzana Vieira ou um genérico de Toni Ramos. Quando aparece alguém um pouco mais inteligente, porém, ele se complica. Faustão anda tão enlouquecido em sua cavalgada que não lembrou, talvez, de quem se tratava. Começou com uma conversa mole sobre o Brasil ser “o país da desesper