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A história do homem que inventou a proteção às aplicações financeiras

A morte do financista belga naturalizado americano Marc Rich, na quarta-feira 28, na Suíça, representou o fim de uma era. Nascido como Marcell Reich em 1934, emigrou com a família para os Estados Unidos em 1941, fugindo do nazismo. Seu pai abriu uma joalheria no Kansas e, mais tarde, mudou-se para Nova York, onde iniciou um negócio de importação de juta, atividade que ensinaria a Rich os rudimentos do mercado internacional de commodities. O futuro financista chegou a matricular-se na New York University para estudar economia, mas sua carreira acadêmica encerrou-se antes do fim do primeiro semestre. Rich queria trabalhar e ganhar dinheiro – e rápido.

Para isso, ele foi trabalhar em uma das principais corretoras de commodities americanas, a Philipp Brothers. Em sua carreira como operador de commodities, Rich foi buscar negócios muito longe de casa, e estabeleceu filiais da Philipp em Cuba, na Bolívia e na Espanha. Sua fortuna de US$ 2,5 bilhões começou a ser construída no início da década de 1970. Devido ao embargo do petróleo dos países árabes que se seguiu à Guerra do Yom Kippur, as empresas americanas não conseguiam importar o produto. Rich comprou vastas quantidades de petróleo do Irã e do Iraque por US$ 12 o barril e, por meio de tradings, revendeu o óleo aos americanos pelo dobro do preço.

Nos anos 80, Rich resolveu os problemas de dois países em dificuldades. A recém-instalada república islâmica do Irã não conseguia exportar petróleo devido às sanções impostas pelos Estados Unidos. A África do Sul enfrentava um bloqueio global para fazer negócios devido ao apartheid. Rich fechou lucrativos contratos de exportação de petróleo iraniano com o governo de Pretória. “O aiatolá Khomeini respeita os contratos”, afirmou Rich ao ser questionado sobre o fato. Manteve boas relações com ditadores como o líbio Muammar Gaddafi, o chileno Augusto Pinochet e o romeno Nicolae Ceaucescu, além do cubano Fidel Castro, de quem comprava charutos por atacado. “Não sou político, sou comerciante”, dizia Rich.

Ele deixaria a Philipp no início dos anos 1980 para fundar sua própria empresa. Sua agressividade logo o levaria a burlar a lei. Rich foi processado pelo governo americano por evasão fiscal e por fazer negócios com países inimigos dos EUA. Se tivesse sido condenado em todos os processos, teria de enfrentar mais de 300 anos de prisão. Precavido, emigrou para a Suíça, onde passaria os 30 anos seguintes. Se quisesse, poderia ter voltado para os Estados Unidos no fim da vida, pois recebeu um perdão presidencial de Bill Clinton, poucas horas antes de o presidente americano encerrar seu mandato. A generosidade pode ter tido alguma leve relação com o fato de a ex-mulher de Rich ter doado US$ 1 milhão para a fundação criada por Clinton.

A princípio, sua biografia em nada difere da de qualquer especulador, mas Rich foi o criador de um novo mundo. Quando iniciou sua carreira, as empresas petrolíferas europeias e americanas dependiam de contratos de longo prazo fechados com os países produtores, o que fazia os preços do petróleo oscilarem pouco ao longo do tempo. Rich percebeu que, com o apoio dos bancos, era possível negociar petróleo, metais e grãos, como trigo e milho, da mesma forma que se negociavam ações, driblando as companhias petrolíferas tradicionais. Foi o embrião de um mercado que movimenta US$ 1 trilhão todos os dias, o dos fundos de hedge que especulam com commodities

Por Cláudio Gradilone, publicado no site da revista Isto É Dinheiro.

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