Pular para o conteúdo principal

Mesmo com a lei que tenta protegê-lo, o torcedor brasileiro continua sendo desrespeitados em todos os aspectos

Em 15 de maio de 2003, pouco mais de três meses após ser empossado em seu primeiro mandato, o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei 10.671, instituindo o Estatuto do Torcedor, este que é, sem dúvida, o maior patrimônio dos clubes, em especial no futebol. Passados dez anos, a comemoração dessa conquista legal é prejudicada pelo desrespeito a alguns de seus mais importantes dispositivos.


No âmbito das normas cujo descumprimento é mais lesivo incluem-se as contidas no Artigo 26, que assegura, dentre outros direitos, o acesso ao transporte público seguro e organizado e serviços de estacionamento para uso dos torcedores. Além disso, há obrigatoriedade de o organizador do evento disponibilizar, ainda que oneroso, meio de transporte para a condução de idosos, crianças e pessoas portadoras de deficiência física aos estádios, partindo de locais de fácil acesso, previamente determinados.


Ora, nenhuma dessas três obrigações legais é atendida. O transporte público aos estádios é invariavelmente precário, com um fator agravante: há cidades em que a oferta de trens, metrôs e ônibus é até reduzida aos domingos, quando normalmente ocorrem os grandes jogos. Em outros casos, um dos mais eficientes meios de transportes, o metrô, tem seu fechamento realizado antes do término da partida, por conta dos horários noturnos absurdos de alguns jogos. Quanto aos estacionamentos, o desrespeito é ainda mais grave. Simplesmente não existem, deixando à mercê dos flanelinhas os torcedores que, na ausência de transporte público adequado, optam por ir ao espetáculo com seu automóvel. O cachê dos guardadores de carro não é pequeno e a recusa do pagamento, como sabemos, pode custar lataria amassada, riscos na pintura e até ameaças e agressões físicas.


Finalmente, é importante refletirmos sobre o Artigo 30, que estabelece o seguinte: “É direito do torcedor que a arbitragem das competições desportivas seja independente, imparcial, previamente remunerada e isenta de pressões.” Por mais polêmicos que possam ser os erros da arbitragem, é inegável que, em alguns jogos, eles interferem de modo decisivo no resultado, ferindo de modo direto o direito à imparcialidade nas decisões.


Como é impossível proibir o ser humano de errar, cabe urgência na adoção de medidas mais rigorosas para investigar determinados equívocos demasiadamente graves e/ou punir árbitros e bandeirinhas que interferem de modo direto e indevido no resultado das partidas. Nesse sentido, foi irônico observar, no antológico Pacaembu, em São Paulo, exatamente nos dez anos do Estatuto do Torcedor, que erros grotescos de arbitragem feriram o direito à imparcialidade dos resultados de cerca de 80 mil pessoas, somados os públicos dos jogos de Palmeiras e Corinthians contra Tijuana e Boca Juniors, respectivamente, nas oitavas de final da Libertadores da América.


Neste momento dinâmico do marketing esportivo brasileiro, em que crescem as receitas advindas de programas como os de sócio-torcedor, venda de camisas e produtos licenciados, é fundamental darmos novos passos no cumprimento da Lei 10.671. Com mais segurança, conforto, mobilidade, facilidade de estacionar e consciência de que árbitros distraídos, incompetentes ou corruptos não ficarão impunes, os amantes do futebol estarão cada vez mais presentes aos estádios.


Por Fernando Trevisan, pesquisador e consultor da Trevisan Gestão do Esporte e diretor da Trevisan Escola de Negócios.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

humorista Marcelo Adnet mostra que a maioria das pessoas que condenam a corrupção é corrupta

Você abomina corrupção, certo? Mas será que nunca furou fila no banco, estacionou em vaga de deficiente, não devolveu o dinheiro do troco errado que recebeu, ‘molhou’ a mão de agentes de trânsito para não ser multado, falsificou uma carteirinha de estudante para pagar meia-entrada ou fez um retorno na contramão? São esses episódios do dia a dia do brasileiro que o humorista Marcelo Adnet aborda no Musical do  Jeitinho Brasileiro  ( assista ao vídeo completo aqui ), um dos esquetes exibidos na Rede Globo nesta terça-feira (19), na estreia da nova temporada do programa  Tá No Ar, programa capitaneado pelo próprio Adnet. “Eu deixo uma cerveja [propina] que é pra não pagar fiança. É a vida: corrompida e corrompida”, diz o início da música – uma versão de  O Que é, o Que é,  de Gonzaguinha. “A lei diz que, quando entrar um idoso tenho que levantar. Mas finjo que não vejo a velhinha, fecho o olho e dou aquela dormidinha”, diz outro trecho da esquete...

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO NO RENDIMENTO DO SALÁRIO

É indiscutível a importância do estudo para alavancar o rendimento e a produtividade do trabalho das pessoas, mas ainda não tínhamos uma medida exata para o mercado brasileiro da contribuição da educação para o rendimento do trabalho. No início de outubro deste ano, a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV/RJ) publicou um trabalho em que são apresentadas informações relevantes a respeito da influência do estudo no rendimento do trabalho ou o retorno no investimento em capital humano. Existe uma diferença entre o capital humano geral caracterizado como o aprendizado no ensino fundamental, médio e superior e o capital humano específico que o indivíduo adquire através de sua experiência profissional e cursos específicos. O último é perdido, ao menos em parte, quando o indivíduo passa a exercer outra atividade bem diferente da que exercia, enquanto que o primeiro tipo de capital humano só é perdido com a morte do indivíduo. Em analisando pessoas do mesmo sexo, raça, idade e localid...

UM NATAL PARA TODOS NÓS

Segundo a crença de bilhões de cristãos e não-cristãos, há 2.008 anos nasceu um Menino que viria para libertar a humanidade de toda opressão, angústia, morte e de todo pecado. Jesus nasceu no meio dos mais pobres e humildes e entre os animais para ser o Rei. Este Rei Todo Poderoso, seria acima de tudo, o Rei da bondade, do perdão, do amor, da união, da humildade e da misericórdia. Jesus nasceu para ser o Caminho, a Verdade e a Vida. Nele encontramos o caminho para nossa liberdade, a verdade em tudo que ele falou e pregou às mais diversas platéias e a vida, a vida eterna. Na vida eterna não terá sofrimento, maldade de qualquer espécie, onde o respeito impera entre todos, será uma vida de felicidades, amor, alegrias e de todas as coisas boas que não terão fim. Nos dias atuais, onde muitos não respeitam o seu semelhante, não respeitam o direito do outro e se acham no direito sem de fato tê-lo, a presença de Jesus é muito importante. Muitas pessoas talvez digam que a maldade, o pr...