Ainda bem que nos últimos anos tem ocorrido uma mudança
significativa tanto na diminuição do nível de pobreza quanto na concentração de
renda dos brasileiros. Recentemente, o IPEA (Instituto de Pes quisas Econômicas Aplicadas) divulgou um
trabalho no qual são apresentados números que comprovam a diminuição
sistemática da concentração de renda no Brasil. Segundo o IPEA, que utilizou
dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a desigualdade de
renda no Brasil vem caindo continuamente desde 2001. Entre 2001 e 2011, a renda
per capita dos 10% mais ricos aumentou 16,6% em termos acumulados,
enquanto a renda dos mais pobres cresceu notáveis 91,2% no período. Ou seja, a
do décimo mais pobre cresceu 550% mais rápido que a dos 10% mais ricos. Os
ganhos de renda obtidos aumentam paulatinamente, na medida em que caminhamos do
topo para a base da distribuição de renda.
A concentração de renda no
Brasil aumentou continuamente de 1960 até 1990 quando a partir de então passou
a diminuir. A medida de concentração de renda é obtida por meio do índice de
Gini, que quanto mais próximo estiver e 1 (um) mais concentrada é a economia e
quanto mais próximo estiver de zero mais justa é a economia e a sociedade em
termos de renda e riqueza. O ápice da concentração de
renda no Brasil foi em 1990 quando o índice atingiu 0,607. Embora a diminuição
tenha começado a ocorrer a partir da implantação do Plano Real em 1994, a queda
ocorreu com maior vigor quando a economia começou a crescer já na década de
2000.
A redução da desigualdade observada na década passada teve a
contribuição de diversos fatores. A participação desses fatores na redução das
desigualdades no país teve a seguinte configuração: Trabalho (58%), Previdência
(19%), Bolsa Família (13%), Benefício de Prestação Continuada (4%) e Outras
Rendas (6%) como aluguéis e juros. Isso
mostra quão decisivo foi o aumento do emprego para a diminuição das
desigualdades. O aumento do valor do salário mínimo e a renda distribuída por
meio da Bolsa Família tiveram importância, mas muito inferior ao do aumento do
trabalho.
O país teve uma redução de 57,5% na pobreza na década
passada que permitiu ao Brasil fazer mais do dobro do que foi pactuado com as
metas do milênio da ONU, e em menos tempo. Mais da metade dessa queda na
pobreza, cerca de 52%, foi provocada por mudanças na desigualdade de renda,
sendo o restante explicado pelo efeito crescimento puro. Segundo o IPEA, sem
essa redução da desigualdade, a renda média precisaria ter aumentado quase 89%,
em vez dos 32% observados entre 2001 e 2011, para que a pobreza tivesse a mesma
queda.
Em exercício realizado pelo IPEA, mostrou que ao considerar
a população por renda per capita e dividi-la em 10 pedaços iguais, entre
a primeira e a última PNAD da década passada, a renda dos 10% mais pobres subiu
91,2% em termos reais per capita, acumulados no período. Este ganho vai
caindo paulatinamente à medida que nos aproximamos do topo da distribuição,
atingindo 16,6% entre os 10% mais ricos. Quando se compara as décadas de 1960 e
a de 2000, as taxas acumuladas de crescimento dos estratos extremos da
distribuição são similares. A renda dos 10% mais ricos nos anos 60 sobe 66,87%,
quase o aumento de renda dos 50% mais pobres na década passada, e vice-versa. É
o que podemos chamar de imagem invertida no espelho da desigualdade. No final da
década passada, voltamos ao ponto onde estávamos meio século antes.
O país, e seu povo, teve que penar muito para que pudesse
lograr atravessar um caminho tortuoso em que os mais fracos e os mais
debilitados quase sempre saiam perdendo e ficando mais fraca ainda ou mais
fraco em relação aos que eram mais forte. Era uma situação na qual quem tinha
mais ganhava mais e quem tinha menos ganhava menos, se ganhasse alguma coisa.
Agora, vivemos outro momento em que se tem a perspectiva de prosseguimento
desse processo de desconcentração de renda e riqueza no país e a redução
acentuada da pobreza. Os governantes do Brasil em todas as instâncias e poderes
devem fazer o máximo possível para que o povo brasileiro seja menos pobre e a
sociedade tenha a renda e a riqueza cada vez mais desconcentradas.
Comentários
Postar um comentário