Pular para o conteúdo principal

A população e a produção de alimento: A fome não é problema de escassez de produto


Toda vez que, por algum motivo, ficamos com fome temos uma sensação muito ruim, isso porque é somente por algumas poucas horas, imagina pessoas que passam o dia ou até mesmo dias sem poder comer ou comem muito precariamente porque lhes faltam recursos para conseguir o alimento. Se alimentar é uma atividade básica sem a qual nenhum ser vivente consegue viver e quanto menos se alimenta pior é a qualidade de vida e mais sofrimento padece. Infelizmente, centenas de milhões de pessoas em todo o mundo sofrem pela falta de comida atualmente, impondo-lhes sofrimento incomensurável no cotidiano dessas pessoas.  

Atualmente são produzidos 1,5 bilhão de toneladas de cereais e 200 milhões de toneladas de carnes por ano em todo o mundo, que seriam suficientes para alimentar todos os seres humanos do planeta, entretanto em razão do grande desperdício, da forte concentração de renda entre os países e dentro dos países, de distorções de preços e outros fatores muitas pessoas não conseguem se alimentar dignamente. A fome ou a alimentação em quantidade insuficiente tornam-se presentes constantemente nas vidas dessas pessoas. O nível da produção de alimentos aumentou muito fortemente nas últimas décadas, levando vários países, como o Brasil, a terem excedentes de alimentos que são exportados para outros países que não os produzem em quantidade para alimentar toda a sua população.

Segundo algumas previsões de órgãos sérios, daqui uns trinta anos, será necessária dobrar a produção de cereais e mais que dobrar a produção de carnes, que deverão ser produzidas 470 milhões de toneladas em todo o mundo por ano. Essa meta é totalmente factível, dadas as possibilidades reais de aumento vertiginoso da produtividade (aumento da produção utilizando-se a mesma quantidade de terra) e a grande quantidade de terra que podem ser utilizada e que não o são. No Brasil, por exemplo, somente sete por cento da superfície de terra são utilizados na agricultura. No mundo e no Brasil, em particular, a agricultura industrial, a chamada agroindústria, foi um dos setores onde ocorreram os maiores aumentos de produtividade nos últimos anos. A tendência é que a produtividade continue aumentando no campo, com o consequente aumento na produção de alimentos e a provável redução nos seus preços.

Nas primeiras décadas do século dezenove, o economista britânico Thomas Robert Malthus dizia que a população estava condenada a não aumentar significativamente e a ter a qualidade do padrão vida bastante limitada em razão da falta de alimentos. Para ele, a produção de alimentos não era capaz de acompanhar o aumento da população que passaria a ser limitada pela escassez de alimentos. O que ele não imaginava é que as técnicas de produção que surgiram posteriormente foram capazes de elevar significativamente o nível de produção que o mundo era capaz de produzir. Naquela época a população mundial não passava de um bilhão, atualmente o mundo é capaz de produzir alimentos para suprir a demanda de sete bilhões de pessoas que vivem na terra.

Diferentemente do previsto por Malthus, o problema da fome atualmente no mundo é de natureza distributiva de renda, fator principal que levam as pessoas a passarem fome. As pessoas passam fome não porque faltam alimentos, mas porque não possuem recursos para comprá-los.  Aqui é muito importante o comprometimento dos países ricos e de órgãos como a Organização das Nações Unidas (ONU) que tem como um de seus objetivos do milênio a redução pela metade do número de famintos no mundo pela metade até 2015.

Nesse contexto, o Brasil tem muito o que contribuir tanto com o combate à fome dos brasileiros como do resto do mundo. Com o aumento da produtividade, pode-se vender mais barato e muitos que não poderiam comprar passam a ter condições de se alimentar melhor. No caso dos brasileiros que ainda passam fome, o país também pode contribuir para incluí-los no mercado de consumo com políticas sociais que os levem a obterem renda suficiente para comprar o alimento que necessitam. O mesmo deve ser feito pelos países que possuem pessoas passando fome.

Comentários

  1. Leio quase sempre os seus pertinentes artigos...Parabéns! :)

    ResponderExcluir
  2. Francisco, suas matérias são sempre pertinentes. A fome é um problema sério em muitos países mesmo, centenas de milhões de pessoas sofrem e isso é muito deprimente porque alimento, vestimenta, saúde, educação e até mesmo um enterro digno deveriam ser direitos de cada cidadão - impostos existem pra isso. Pena que "quase nunca" são direcionados para as necessidades da população. Ainda mais o mundo sendo capaz de suprir a demanda da população por alimentos. A má distribuição de renda sempre foi um problema seríssimo, que pena! Abraços, amigo. Parabéns pela postagem - como sempre!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO NO RENDIMENTO DO SALÁRIO

É indiscutível a importância do estudo para alavancar o rendimento e a produtividade do trabalho das pessoas, mas ainda não tínhamos uma medida exata para o mercado brasileiro da contribuição da educação para o rendimento do trabalho. No início de outubro deste ano, a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV/RJ) publicou um trabalho em que são apresentadas informações relevantes a respeito da influência do estudo no rendimento do trabalho ou o retorno no investimento em capital humano. Existe uma diferença entre o capital humano geral caracterizado como o aprendizado no ensino fundamental, médio e superior e o capital humano específico que o indivíduo adquire através de sua experiência profissional e cursos específicos. O último é perdido, ao menos em parte, quando o indivíduo passa a exercer outra atividade bem diferente da que exercia, enquanto que o primeiro tipo de capital humano só é perdido com a morte do indivíduo. Em analisando pessoas do mesmo sexo, raça, idade e localid...

humorista Marcelo Adnet mostra que a maioria das pessoas que condenam a corrupção é corrupta

Você abomina corrupção, certo? Mas será que nunca furou fila no banco, estacionou em vaga de deficiente, não devolveu o dinheiro do troco errado que recebeu, ‘molhou’ a mão de agentes de trânsito para não ser multado, falsificou uma carteirinha de estudante para pagar meia-entrada ou fez um retorno na contramão? São esses episódios do dia a dia do brasileiro que o humorista Marcelo Adnet aborda no Musical do  Jeitinho Brasileiro  ( assista ao vídeo completo aqui ), um dos esquetes exibidos na Rede Globo nesta terça-feira (19), na estreia da nova temporada do programa  Tá No Ar, programa capitaneado pelo próprio Adnet. “Eu deixo uma cerveja [propina] que é pra não pagar fiança. É a vida: corrompida e corrompida”, diz o início da música – uma versão de  O Que é, o Que é,  de Gonzaguinha. “A lei diz que, quando entrar um idoso tenho que levantar. Mas finjo que não vejo a velhinha, fecho o olho e dou aquela dormidinha”, diz outro trecho da esquete...

Pesquisa Vox Populi mostra o Haddad na liderança com 22% das intenções de votos

Pesquisa CUT/Vox Populi divulgada nesta quinta (13) indica: Fernando Haddad já assume a liderança da corrida presidencial, com 22% de intenção de votos. Bolsonaro tem 18%, Ciro registra 10%, Marina Silva tem 5%, Alckmin tem 4%. Brancos e nulos somam 21%. O Vox Populi ouviu 2 mil eleitores em 121 municípios entre 7 e 11 de setembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para cima ou para baixo. O índice de confiança chega a 95%. O nome de Haddad foi apresentado aos eleitores com a informação de que é apoiado por Lula. Veja no quadro: Um pouco mais da metade dos entrevistados (53%) reconhece Haddad como o candidato do ex-presidente. O petista, confirmado na terça-feira 11 como o cabeça de chapa na coligação com o PCdoB, também é o menos conhecido entre os postulantes a ocupar o Palácio do Planalto: 42% informam saber de quem se trata e outros 37% afirmam conhece-lo só de nome. O petista chega a 31% no Nordeste e tem seu pior desempenho na região Sul (11%), me...