O ano de 2011 não foi muito bom para alguns setores da economia brasileira. Mas, para outros pode-se dizer que foi uma maravilha, considerando os lucros fabulosos que suas empresas obtiveram no ano passado. Notadamente considerando-se que o objetivo primordial de qualquer empresa privada é obter lucros. Os lucros bilionários que muitas empresas brasileiras tiveram no ano passado contradiz de forma clara e cristalina que o ano de 2011 foi um ano de crise para o Brasil. Aliás, existe um setor na economia brasileira que não sabe o que é crise: o setor bancário. Levando em conta os cinco maiores bancos brasileiros, de 2003 até 2011 obtiveram uma lucratividade de 316% enquanto nesse mesmo período a inflação medida pelo IPCA foi 55% e a SELIC (índice que remunera a maior parte dos títulos do governo) foi de 233%.
Os ganhos que os bancos estão obtendo no Brasil são muito altos, até exagerados. Em 2011, o somatório dos lucros dos seis maiores bancos (três privados, dois públicos e um semipúblico – o Banco do Brasil) foi de inacreditáveis R$ 59,82 bilhões. O maior lucro no ano passado no setor bancário foi do Itaú Unibanco, com R$ 14,6 bilhões e lucratividade (basicamente o lucro dividido pelo patrimônio líquido no ano) de 22,3%. O Banco do Brasil teve um lucro em 2011 de R$ 12,1 bilhões, com rentabilidade de 22,24%. O Bradesco lucrou R$ 11,02 bilhões e rentabilidade de 21,3%. O BNDES teve um lucro de R$ 9 bilhões, com lucratividade de 15%. O Santander lucrou R$ 7,8 bilhões e lucratividade de 16,2%. A Caixa Econômica Federal lucrou R$ 5,2 bilhões e lucratividade de 29,6%.
Como se observa acima, o nível de rentabilidade dos bancos é muito alto, muito superior ao da SELIC, em vários casos mais do que o dobro. Não resta dúvida que o sistema bancário é extremamente importante para a economia e para o desenvolvimento do país e da sociedade, mas essa alta lucratividade não é o resultado somente da eficiência de seus executivos e funcionários, certamente a exploração de seus clientes também contribui para esses lucros estratosféricos. O nível de crédito aumentou significativamente nos últimos oito anos, passando de 26% do PIB para 49% (com expansão de 20%, em média, ao ano), mas é notório que os custos diretos e indiretos de se obter empréstimos bancários no país são muito altos, às vezes quase proibitivos.
Outras empresas brasileiras também tiveram lucros muito grandes no ano passado, mais são empresas praticamente monopolistas em seus setores e estão entre as maiores do mundo: A Petrobrás e a Vale. Esta última teve um lucro de R$ 37,82 bilhões, o maior lucro que uma empresa brasileira já conseguiu. O lucro da Petrobrás foi de R$ 33,3 bilhões, o terceiro maior da história, perdendo apenas para a Vale no ano passado e para a própria Petrobrás em 2010. Outras empresas e grupos empresariais também tiveram lucros muito grandes, sendo que algumas já divulgaram e outras irão divulgar (notadamente aquelas que possuem obrigação de divulgar os seus resultados), mas muito longe dos patamares dessas duas empresas. Essas duas empresas tradicionalmente conseguem grandes resultados em termos de lucros.
Apesar de se considerar que faz parte do jogo do mercado as empresas competirem e obterem o máximo lucro possível, não parece ser moral setores terem um lucro muito alto, muito maior do que a média, às custos de seus usuários. No caso específico dos bancos, isso é notório. As altas taxas de tarifas e juros cobrados em praticamente todos os empréstimos maculam qualquer objetivo que tenha caráter de função social ou de respeito ao cidadão. Pode até ter respeito, mas para isso precisa pagar muito caro. Considerando o nível de inadimplência da maioria dos bancos, não se justificam os custos tão altos na utilização dos bancos brasileiros. Não há dúvida que esses grandes lucros são sustentáculos para a solidez e perpetuidade dessas empresas e bancos, mas o povo não pode pagar toda a conta quando utiliza os seus produtos e serviços.
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