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Os trabalhadores do setor público são tão eficientes quanto os do setor privado?


Muitas pessoas acham que os funcionários públicos são perdulários, que trabalham pouco e são muito menos eficientes que os trabalhadores do setor privado. Será que isso é verdade ou é apenas o pensamento de quem pensa que sabe mas não sabe? Será que as pessoas que trabalham no setor público são tão eficientes quanto os seus colegas do setor privado? Quem são mais eficientes e produzem mais por trabalhador: o governo federal, os governos estaduais ou os municípios?


A melhor forma de se medir a eficiência dos trabalhadores em determinado setor, segmento ou qualquer outra dimensão é por meio da produtividade do trabalho nesse grupo. A medida da produtividade é nada mais e nada menos do que a produção por trabalhador. Entretanto, essa medida não é tão simples assim porque depende de diversos outros fatores como inovações tecnológicas, condições de trabalho, formação e preparação técnica do trabalhador, incentivos e disposição do próprio trabalhador para executar a sua atividade e um série de outros fatores. As decisões administrativas, os meios pelos quais são executadas as atividades também são de fundamental importância na evolução da produtividade e conseqüentemente da eficiência do trabalho.


A produtividade é fundamental para a melhora nas condições de vida do próprio trabalhador, da sociedade e do país. Em razão disso, a sua evolução pode ser caracterizada como algo que deve ser sempre buscado. Para isso, é muito importante que haja investimentos em inovações tecnológicas, utilizações das tecnologias mais vantajosas, aumento no nível de ensino no país, capacitação de todos os trabalhadores e utilizações de técnicas que facilitem o trabalho e elevem o resultado do trabalho. No Brasil, a produtividade teve uma evolução bastante razoável no período compreendido entre 1930 e 1980. Nesse período em razão da industrialização, inovações e outros fatores a produtividade do trabalhador foi multiplicada por 5. No período compreendido de 1981 até a implantação do Plano Real em 1994, o nosso país teve uma série de dificuldades entre altos e baixos a evolução da produtividade dos trabalhadores brasileiros ficou basicamente no mesmo lugar. A partir de 1995 a produtividade teve uma evolução bastante satisfatória.


O IPEA, utilizando dados do IBGE e do Tesouro Nacional, realizou um levantamento da produtividade do trabalhares do setor público e realizou diversas comparações, entre as quais entre os trabalhadores do setor privado e trabalhadores dos diversos níveis de governo. No período de 1995 a 2006, o aumento na produtividade do setor público foi de 14,7%, enquanto que no setor privado esse aumento foi de 13,5%. Isso mostra cabalmente que nesse período o resultado obtido por trabalhador teve um aumento maior do que o obtido no setor privado. Considerando ano a ano, existem alguns anos em que em que os trabalhadores do setor privado tiveram um aumento maior do que os do setor público, mas, no período como um todo, estes últimos evoluíram mais.


Ao se comparar a evolução da produtividade do trabalho nos três níveis de governo tem-se uma diferença bastante razoável. Com dados que compreende o período de 1999 a 2007 e utilizando-se a execução orçamentária por empregado como medida de produtividade, obteve-se uma evolução da produtividade acumulada de do setor público de 9,3%. Enquanto que para o conjunto dos Estados brasileiros esse aumento foi de 24,3%, para os Municípios foi de -5,2% (menos) e para o governo federal o aumento foi de 30,2%. Isso é mostra que os Estados e notadamente a União tem-se utilizado recursos que levaram ao aumento de eficiência dos seus empregados do que os Municípios. Mesmo entre os estados e as regiões do Brasil houve diferenças razoáveis. Por exemplo, no período de 1995 a 2004 a evolução da produtividade do trabalho acumulada no setor púbico nas regiões foi a seguinte: Sul – -1,3%, Sudeste – -0,2%, Norte – 2,8%, Nordeste – 39,8% e Centro-Oeste – 49,3%. Nas regiões mais desenvolvidas, não houve evolução, ao contrário, houve uma pequena diminuição enquanto que nas três regiões menos evoluídas, com exceção da Região Norte, houve um aumento grande.


O mito de que o setor público é ineficiente é, na verdade, isso mesmo: um mito. As pessoas que trabalham nesse setor são altamente qualificadas e estão dispondo cada vez mais com equipamentos e outros meios de prestarem um bom serviço à população que é o destino da sua produção. Evidentemente, em vários municípios ainda não se tem essa eficiência dados os poucos recursos disponíveis, tanto físicos como intelectuais, de gestão e administrativos. As mesmas inovações tecnológicas, administrativas, controles que existem no setor privado tem atingido o setor público. Este último, nos últimos anos, tem tido mais controle até mesmo que no setor privado em razão de diversos tipos de fiscalizações e leis que agem no sentido de aumentar a eficiência na prestação dos serviços do setor público. É claro que existe ainda forte necessidade de recursos dada a alta demanda pelos serviços públicos, mas os trabalhadores estão levando muito a sério as suas atividades no atendimento à população.

Comentários

  1. Olá, grande Francisco!

    Eu penso que a questão da eficiência no trabalho independe do setor público ou privado. Sou funcionária pública municipal há quase 6 anos e posso te assegurar que o nível de cobranças e da qualidade no trabalho desenvolvido são compatíveis com o de muitas grandes empresas que já trabalhei antes. Ou seja: eu acho que o único responsável por um trabalho de qualidade é o próprio trabalhador. Conheço inúmeros servidores públicos que são show de bola e também conheço vários outros que não deveriam estar onde estão. Da mesma forma acontece no setor privado: existem também os bons e os ruins. Os incentivos da empresa e a tecnologia contam muito, mas não é só isso que vale... existem também outros aspectos muito importantes a serem desenvolvidos junto aos trabalhadores.

    Gosto muito desse tipo de assunto. Qualquer hora dessas, quando eu estiver com mais tempo, vamos trocar mais idéias, amigo!

    Até breve...

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  2. A artigo mostra uma realidade, hoje o serviço público, está preocupado em melhorar o desempenho e isso é muito bom para a população que necessita desses serviços.
    O problema é que um mau servidor vende a ideia de que todos são assim, fato que não corresponde a realidade.

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  3. O fato de dizer que o empregado do setor público trabalha menos é uma falácia. Não é assim.

    O que ocorre é que no setor público, sem dúvida existe uma maior estabilidade. E estabilidade não significa em absoluto falta de competência. O trabalhador público é concursado. Significa dizer que as regras de seleção são diferentes. Para por aí. Competência é outro departamento.

    Na verdade quem faz a máquina do Estado funcionar são os trabalhadores concursados. Os cargos políticos dão apenas o direcionamento. E ai daquele cargo político que não der ouvidos aos funcionários de carreira.

    Existe falta de competência tanto em um quanto em outro. Mas posso afirmar com segurança que a eficiência de um trabalhador do setor público é, na média, mais competente do que no setor privado. Isto por uma série de motivos que, se enumerados, faria com que escrevesse um novo post.

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  4. O setor público é gigantesco no Brasil, não é mesmo Francisco?

    Veja bem, não dá para generalizar, entre o setor público e o privado, por mais que eu pense, me esforce em pensar, acabo sempre no mesmo ponto, a Injustiça.

    Há interesses em se instalar a anarquia, como no caso da saúde do RJ, fica mais fácil desviar verbas.

    O problema é de gestão, não de eficiência, se um funcionário ganha poco, só será produtivo com em acompanhamento eficiente.

    ABÇs

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  5. AMIGO FRANCISCO CASTRO,
    Excelente Post!
    Penso que os trabalhadores do setor público são extremamente cônscios de suas responsabilidades, em especial os que ocupam cargos nos segundo e terceiro escalões do governo, há uma pequena defasagem nos pequenos municípios, dada a falta de logística, mas quando observamos o desempenho de todo o conjunto são eles que carregam o País, e com certeza, são bem qualificados. Conheço funcionários de carreira, que mesmo no setor público não ficaram na espera por programas gratuitos para continuarem suas especializações, meteram a mão na poupança e custearam suas despesas.
    Portanto, são profissionais tão bons quanto os que atuam na iniciativa privada!
    Parabéns pelo excelente texto!
    Abraços!LISON.

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  6. Todos somos iguais, quando prestamos provas tanto para iniciativa privada como pública, ai entra aquele jeitinho, no público existe uma acomodação por parte dos funcionários, sabe como é, estabilidade faz aparecer o relaxo.
    Abraços forte

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  7. Francisco,

    Os parâmetros usados para medir a eficiência coleltiva dos funcionários são válidos.

    Quanto à métrica individual, por ser quase impossível de se fazer, certamente alteraria o resultado. Os funcionários públicos tem a estabilidade, o que lhes permite uma certa 'displicência' no servir.

    Já os funcionário de empresas particulares, são constantemente monitorados por supervisores e, se o rendimento não é o esperado, a demissão é certa.

    Comparativamente, no setor público, temos uma máquina inflada de funcionários, sendo uma parte representada pelos 'contratados' e no setor privado, esse número é enxuto, senão não haveria lucro, o que não há no setor público, pois está sendo endividado.

    Não se atendo as massas públicas ou privadas, certo é que encontramos em ambas profissionais dedicados.

    Beijocas

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  8. Eu sou a prova viva do que está escrito nesse post. Há vinte anos trabalho no serviço público e desde então, nós temos atendido cada vez mais clientes, no entanto o número de empregados tem diminuido assustadoramente. a maioria vai por causa da aposentadoria, mas o governo não repõe as baixas.Assim os que ficam se obrigam a assumir as tarefas dos que se foram. Tenho observado que tem havido muito investimento em automação, mas reposição dos recursos humanos, quase nada. Eis ai uma das razões do aumento da produtividade.
    Abraço.

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  9. Saudações!
    Amigo Francisco,
    Passei para lhe desejar uma semana de muito sucesso!
    Abraços!LISON.

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  10. O grande erro de muitas pessoas é querer comparar o governo com uma empresa, muitos falam que a maquina pública ta inchada, inflamada, e que o governo tem que cortar gastos. Mas a realidade é que o governo tem que fazer valer a lei, ou melhor, tem que garantir constitucionalmente os direito dos cidadões, se o governo precisa de contratar mais servidores para melhorar o atendimento então faça mais concurso. Vale ressaltar que o governo tem mil e uma maneira de arrecadar dinheiro(um exemplo é a exploração exclusiva da loteria) e além disso o dinheiro gasto com pessoal tem em sua boa parcela retorno através de impostos. Portanto não adianta comparar o governo com uma empresa que uma é totalmente diferente da outra.

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