Pular para o conteúdo principal

A crise econômica, a pobreza e a desigualdade no Brasil

Quando ocorrem crises econômicas o que se espera é que aumente o desemprego, a pobreza, a desigualdade de renda e muitos outros indicadores relacionados às questões econômicas e sociais. Na última crise que o nosso país foi atingido esperava-se que esses indicadores sociais tivessem sofrido perdas significativas, com perdas razoáveis para a sociedade brasileira. Será que os dados disponíveis corroboram com essa afirmação? Será que a pobreza no Brasil aumentou em no período da última crise econômica? Será que aumentou a desigualdade de renda em nosso país?


O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) publicou um trabalho no qual, por meio da análise de dados do IBGE, demonstra a evolução da pobreza, da renda, do desemprego e da desigualdade nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil. As regiões metropolitanas são as de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife. Vivem nessas seis regiões metropolitanas 47 milhões de pessoas, o que representam 25% da população brasileira. Embora não represente toda a população brasileira, os dados extraídos dessas regiões são bastante representativos e pode ser validado como do país como um todo, mesmo existindo regiões bem diferentes daquelas objeto da pesquisa.


Desde 2002, quando o IBGE adotou a atual metodologia de cálculo de emprego, os seis primeiros meses de 2009 foram os que apresentaram a maior queda no nível de desigualdade de renda nas seis regiões. No período de março de 2002 a junho de 2009 o índice de Gini caiu 7,6%, somente em 2009 a queda foi de 4,1%. O índice de Gini mede o nível de desigualdade de renda de um determinado país, região ou outro tipo de localidade. O índice vai de zero a um, quanto mais próximo de um, mais concentrada é a renda; e quanto mais próximo de zero, menos concentrada é a renda. Uma das explicações para esse resultado é que a queda no nível do emprego verificada no período eventualmente tenha atingido mais fortemente os níveis de renda mais altos, além do mais, os programas sociais, as aposentadorias, o aumento do salário mínimo acima da inflação e muitas outras ações governamentais têm dado uma certa autonomia de renda das classe mais baixas as crises econômicas que passam a não sentir diretamente os efeitos das crises.


Com relação à pobreza, também se observou uma redução razoável. De março de 2002 a junho de 2009 a taxa de pobreza nas seis regiões metropolitanas caiu 26,8%, entretanto, 31,1% da população dessas regiões estão no grupo de pessoas classificadas como pobres, o que representam 14,5 milhões de pessoas. No período de agosto de 2003 a janeiro de 2007, a taxa média mensal de queda foi de 0,48%, enquanto que no período de fevereiro de 2007 a junho de 2009 a taxa mensal média de redução da pobreza foi de 0,35%. Existem diferenças nas regiões quanto ao percentual de pobres, enquanto na Grande Recife o nível de pobreza alcança 51,1% da população, na Grande Porto esse nível é de 25,7%.


A partir da contaminação da economia brasileira pela crise internacional, houve uma redução o nível de emprego com várias empresas em determinados ramos da economia demitindo seus funcionários, elevando, em conseqüência, o nível de desemprego e a renda. Mas, no período de outubro de 2008 a junho de 2009 houve uma redução no nível de desigualdade de 0,4% e de 2,8% na taxa de pobreza nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. Ou seja, mesmo no período de crise, com várias pessoas sendo ficando desempregadas, houve melhora na vida de muitas pessoas. O número de pessoas que melhoram de vida foi maior do que o número das pessoas que pioram de vida, ao mesmo tempo a diferença de rendas dos que ganham mais com relação aos que ganham menos diminuiu no período.


A nossa economia com todas as suas dificuldades própria de uma economia ainda em desenvolvimento, com uma péssima distribuição de renda e riqueza, com um fosso muito grande no nível educação e de conhecimentos técnicos e científicos além de uma péssima representação em várias instâncias no poder político constituído tem dado exemplos de superação e de vigor nas adversidades. Esse período de crise na economia mundial pode ser um dos maiores exemplos disso. Quando muitos achavam que iríamos mergulhar numa recessão profunda, os indicadores estão mostrando que o nosso país superou sem maiores problemas o que parecia ser invencível. Graças à garra do brasileiro que aprendeu em duas décadas de crises a superar as adversidades e surgir mais forte e mais vigoroso. Com a retomada do crescimento da nossa economia, os indicadores de pobreza e concentração de renda e riqueza tenderão a continuar a melhora que se verificou na crise, agora de forma mais consistente.

Comentários

  1. SAUDAÇÕES!
    AMIGO FRANCISCO CASTRO,
    Sou partidário das boas coisas, digo, das boas notícias, e lendo o seu texto minhas esperanças ficam renovadas. A razão é uma só, eu acredito no povo brasileiro.
    Mas, sou muito sincero com o meu amigo, para mim, todos esses indicadores brasileiros, com excessão da FGV, e uns poucos da iniciativa privada, são fraudados. Isso se tem comprovado ao longo dos anos, quando aparecem na década seguinte as correções, que se deu por isso, que se precisou não contabilizar o ítem x ou y de determinado produto ou seguimento.
    O que é lamentável, triste e vergonhoso!
    O governo brasileiro, tem uma virtude, esconde a real pobreza, fraudando estatísticas e com o assistencialismo de bolsas tantas, enquanto países ricos como a Alemanha, onde 34% vivem em profunda pobreza, escondem seus pobres em suas casas.
    Os nossos, por enquanto, não tem casas. Um dia haverão de ter se Deus quiser.
    Eu acredito e confio em você, tenho certeza que se um dia você assumisse a direção de um dos Institutos acima, faria as devidas correções!
    Parabéns pelo excelente Texto!
    ABRAÇOS!LISON.

    ResponderExcluir
  2. Caro Francisco:

    Você colocou muito bem a questão, abordada, inteligentemente, por um ângulo pouco comum. A mim também me causou estranheza que, ao ser contaminado pela crise, o Brasil somente balançou, não caiu e os indicadores (pasme!) ainda apontavam para uma "diminuição no nível das desigualdades sociais", "manutenção do poder de compra das classes mais baixas" e apenas uma leve retração da economia e da produção industrial. Como?

    Fui atrás da explicação e o que encontrei fez sentido. Eis os motivos: Possuíamos boas reservas;
    o governo interferiu reduzindo taxas de juros e diminuindo impostos (para manter a indústria aquecida e evitar a paradeira) e finalmente, o mais importante: diminuiu a distância das desigualdades sociais. Esta última conseqüência, tem uma explicação inusitada: como a maioria das demissões se deram para os de salário mais elevado, os mais pobres ficaram na mesma mas foram favorecidos pela intensificação das políticas assistencialistas e ainda se beneficiaram também pela redução dos preços, comprando mais. Não deu outra:
    os gráficos revelaram que a distância das desigualdades sociais diminuiram e que as classes inferiores mantiveram ou até aumentaram seu poder de compra. Lógico e até natural.

    Mas não tenha dúvida: nada mudou, foi tudo artificial, provisório e decorrente. Assim que a economia voltar ao que era antes, com a retomada da produção e do emprego e a retirada dos benefícios fiscais, vai ficar !tudo como dantes, no quartel de Abrantes'.

    Isto foi o que entendi e parece haver lógica.

    ResponderExcluir
  3. A maioria do povo brasileiro é a que paga por todos essas mudaças e normas elaboradas pelo governo.
    A paz

    ResponderExcluir
  4. Francisco

    Análise muito bem feita.
    Podemos dizer que o Brasil apesar de uma classe política deplorável, está indo bem no que tange a diversos indicadores econômicos.
    Se o povo tivesse a sensibilidade de não eleger aproveitadores do voto dos ingênuos, o país poderia se desenvolver muito mais.

    ResponderExcluir
  5. As crises vem e vão, mas as lições que aprendemos com elas ficam, as empresas e as pessoas melhoram, pena que a classe política não segue este caminho...
    lorenzo busato

    ResponderExcluir
  6. Francisco,
    Eu sempre desconfio do resultado de estatísticas pois sabemos que elas podem ser manipuladas. Na verdade, o Brasil está realmente sendo nivelado sim, mas para baixo. A classe média é a que mais sofre quando os empregados mais bem pagos são demitidos, acabam-se as melhores vagas de emprego e o assistencialismo vigora. O estranho é que apesar disto tudo ainda se acredita que estamos saindo vencedores da crise.
    Abçs

    ResponderExcluir
  7. Legal de ver todos esses dados em sua postagem, isso nos mostra que estamos caminhando positivamente, e isso só acontece como voce mesmo disse que depois de decadas de crise o povo acordou, a suma disso também e atribuida a uma união interna, imparcialsta, amigo Fracisco te desejo uma otima semana,,,Amigo de CRISTO

    ResponderExcluir
  8. Parabens pelo blog !
    Passa uma visao realista da enorme desigualdade brasileira
    abraco,
    Brady Macdoff

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Pesquisa Vox Populi mostra o Haddad na liderança com 22% das intenções de votos

Pesquisa CUT/Vox Populi divulgada nesta quinta (13) indica: Fernando Haddad já assume a liderança da corrida presidencial, com 22% de intenção de votos. Bolsonaro tem 18%, Ciro registra 10%, Marina Silva tem 5%, Alckmin tem 4%. Brancos e nulos somam 21%. O Vox Populi ouviu 2 mil eleitores em 121 municípios entre 7 e 11 de setembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para cima ou para baixo. O índice de confiança chega a 95%. O nome de Haddad foi apresentado aos eleitores com a informação de que é apoiado por Lula. Veja no quadro: Um pouco mais da metade dos entrevistados (53%) reconhece Haddad como o candidato do ex-presidente. O petista, confirmado na terça-feira 11 como o cabeça de chapa na coligação com o PCdoB, também é o menos conhecido entre os postulantes a ocupar o Palácio do Planalto: 42% informam saber de quem se trata e outros 37% afirmam conhece-lo só de nome. O petista chega a 31% no Nordeste e tem seu pior desempenho na região Sul (11%), mesmo

humorista Marcelo Adnet mostra que a maioria das pessoas que condenam a corrupção é corrupta

Você abomina corrupção, certo? Mas será que nunca furou fila no banco, estacionou em vaga de deficiente, não devolveu o dinheiro do troco errado que recebeu, ‘molhou’ a mão de agentes de trânsito para não ser multado, falsificou uma carteirinha de estudante para pagar meia-entrada ou fez um retorno na contramão? São esses episódios do dia a dia do brasileiro que o humorista Marcelo Adnet aborda no Musical do  Jeitinho Brasileiro  ( assista ao vídeo completo aqui ), um dos esquetes exibidos na Rede Globo nesta terça-feira (19), na estreia da nova temporada do programa  Tá No Ar, programa capitaneado pelo próprio Adnet. “Eu deixo uma cerveja [propina] que é pra não pagar fiança. É a vida: corrompida e corrompida”, diz o início da música – uma versão de  O Que é, o Que é,  de Gonzaguinha. “A lei diz que, quando entrar um idoso tenho que levantar. Mas finjo que não vejo a velhinha, fecho o olho e dou aquela dormidinha”, diz outro trecho da esquete. Com boa dose de ironia, o humo

A atriz Marieta Severo rebate Fausto Silva no programa do apresentador sobre a situação do Brasil

O próximo empregado da Globo a sofrer ameaça de morte, depois de Jô Soares, será Marieta Severo. Pode anotar. Marieta foi ao programa do Faustão, uma das maiores excrescências da televisão mundial desde a era peleozóica. Fausto Silva estava fazendo mais uma daquelas homenagens picaretas que servem, na verdade, para promover um programa da emissora. Os artistas vão até lá por obrigação contratual, não porque gostem, embora todos sorriam obsequiosamente. O apresentador insiste que são “grandes figuras humanas”. Ele se tornou uma espécie de papagaio do que lê e vê em revistas e telejornais, tecendo comentários sem noção sobre política. Em geral, dá liga quando está com uma descerebrada como, digamos, Suzana Vieira ou um genérico de Toni Ramos. Quando aparece alguém um pouco mais inteligente, porém, ele se complica. Faustão anda tão enlouquecido em sua cavalgada que não lembrou, talvez, de quem se tratava. Começou com uma conversa mole sobre o Brasil ser “o país da desesper