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Jornalista da Folha de São Paulo afirma que o filme da Lava Jato é um clichê, partidário e exagerado

Foto: Divulgação
O filme Polícia Federal - A Lei É Para Todos não passa de uma ode à Lava Jato que abandou a moderação e o senso crítica para exaltar os policiais que participam da operação, chegando ao ponto de jogar o juiz Sergio Moro e os procuradores de Curitiba para segundo plano. É o que aponta o jornalista Bernardo Mello Franco, em crítica à produção publicada pela Folha, na quarta (29).

Segundo Franco, o filme é partidário: escolheu o lado dos policiais. Mais do que isso, poda qualquer possibilidade do espectador criar alguma empatia pelos investigados, e expõe a seletividade da ala curitibana da operação, que apura eventos relacionados apenas ao PT.
Sem preocupação em oferecer tratamento igual aos personagens da Lava Jato, a direção do filme ainda optou por expor nomes de investigados, incluído o de Lula, enquanto a força-tarefa está recheada de nomes fictícios.

Para o jornalista, o ponto alto da obra está no resumo de como as autoridades chegaram aos esquemas na Petrobras. Mas fora isso, "A Lei É Para Todos" esbarra em clichês e exageros, apontou. (Com o GGN)

Leia a crítica abaixo.
Na Folha
Filme sobre a Operação Lava Jato tropeça em clichês e exageros
Ninguém esperava uma versão nacional de "Todos os Homens do Presidente". Mesmo assim, "Polícia Federal - A Lei é Para Todos" fica devendo, e muito, para uma produção que se propõe a recriar a maior operação anticorrupção do país.
Com orçamento milionário e elenco de globais e ex-globais, o filme exagera no tom de exaltação da Operação Lava Jato.
O resultado é uma trama maniqueísta, sem nuances, que, em vários momentos, se assemelha a uma peça de propaganda.
Depois dos créditos iniciais, uma citação de Ruy Barbosa dá uma ideia do que vem a seguir: "De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto".
O roteiro não tem vergonha de nada: retrata investigadores como heróis quase infalíveis e recorre à caricatura para barrar qualquer empatia com os investigados.
A produção assume um partido desde o título: o partido da polícia. A ação é comandada por um trio de delegados determinados a prender políticos corruptos e passar o país a limpo.
O protagonismo dos homens de preto é tanto que os procuradores da força-tarefa e o juiz Sergio Moro, representado pelo galã Marcelo Serrado, ficam relegados a papéis secundários.
O filme adota tratamento desigual até na apresentação dos personagens.
Políticos e empreiteiros aparecem com nomes reais, como Lula e Marcelo Odebrecht. Os investigadores são protegidos por pseudônimos, embora alguns pareçam clones dos originais.
Os diálogos patinam em clichês como "a corrupção chegou aqui com as primeiras caravelas" e "o sistema é feito para não funcionar".
Os trechos que se salvam são os que contam como uma apuração corriqueira, com foco na ação de um doleiro, abriu caminho para a descoberta de um gigantesco esquema de corrupção na Petrobras.
No entanto até nisso a produção tropeça na inverossimilhança. Numa passagem, policiais remexem papéis queimados numa churrasqueira e descobrem contas secretas na Suíça.
Em outra, um delegado acorda no momento em que a presidente Dilma Rousseff anuncia, na TV, a nomeação de Lula para a Casa Civil.
Como o fato ocorreu às 16h de uma quarta-feira, fica a suspeita de que alguém dormiu demais: o personagem ou o roteirista.
O empenho em defender a Lava Jato de qualquer crítica deve empolgar os foliões do Morobloco, mas pode afastar um público mais moderado das salas de exibição.
Num momento em que a Lava Jato cerca o governo Temer e atinge políticos de todos os grandes partidos, a ênfase nas acusações ao PT passa a impressão de que o filme resolveu contar apenas uma parte da história.

Os produtores prometem ampliar o leque de vilões numa continuação. O problema será convencer os espectadores do primeiro episódio a retornarem ao cinema.

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