Pular para o conteúdo principal

Cresce a insatisfação do empresariado para com o governo de Michel Temer

Por Tereza Cruvinel, no 247

No dia em que o Copom reduziu a taxa Selic para 9,75%, o aplauso dos empresários do setor produtivo foi um muchocho: podiam ter cortado mais, disseram em coro. Eles apoiaram o impeachment, abraçaram Temer e sua agenda de reformas. Como o estouro do caso JBS, alguns flertaram com sua troca por Rodrigo Maia mas recuaram: ruim com ele, pior sem ele, chega de turbulência. Agora, porém, crescem os sinais de insatisfação do setor produtivo com um governo que não trouxe estabilidade política nem crescimento,  aprofundou a recessão, agora aumentou impostos e enfrenta um descomunal desajuste fiscal. 

         Dirigentes que apoiaram decididamente o impeachment, como Paulo Skaf, presidente da Fiesp, e Robson Andrade, presidente da CNI,  reagiram com desdém ao corte de um ponto percentual na Selic, recolocando-a no patamar de um dígito.  "O BC está com a preocupação errada. A inflação está sob controle. O que o Brasil precisa, no momento, é retomar o crescimento e gerar novos empregos. E isso só vai acontecer com juros mais baixos", declarou Skaf. “O Copom poderia ter feito um corte mais ousado dos juros, como era o nosso desejo. O Banco Central perdeu uma oportunidade”, disse Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo.

         A redução moderada dos juros, já esperada, foi só um pretexto para externarem uma insatisfação que é mais ampla e reflete o ceticismo em relação à capacidade do governo de colocar a economia “nos trilhos”, como prometeu o presidente dos 5% de aprovação.  A CNI, por exemplo, divulgou nota bastante ácida reclamando da decisão da Camex (veja a íntegra no final da matéria) de revalidar, até 2020, um acordo com o Chile pelo qual só navios com bandeiras dos dois países podem operar comercialmente entre eles. A medida visaria, segundo a nota, proteger duas empresas  nacionais, que não foram identificadas, impedindo que navios de outras nacionalidades façam fretes a custos mais baixos com redução no preço final dos produtos importados ou exportados. “O setor privado não encontra nenhuma justificativa plausível para a decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) que adiou o fim do acordo marítimo entre o Brasil e o Chile para 2020.  A decisão não ajuda a melhorar a competitividade da indústria. Estamos precisando de soluções imediatas e positivas, que gerem emprego, renda e um ambiente que se permita investir mais. Não é o que acontece com essa decisão”, disse Robson Andrade na nota. O fim do acordo já fora acertado bilateralmente mas a Camex, depois de cozinhar o assunto por meses, ontem resolveu manter a reserva de mercado até 2020.

         As queixas da indústria começam ser externadas com mais estridência. O acesso ao BNDES continua complicado, a TLP é refugada, a capacidade instalada, por conta da recessão, continua sendo utilizada abaixo da média histórica, o aumento dos combustíveis terá impacto sobre os custos de produção, o fim da política de conteúdo nacional reduz encomendas do setor petrolífero etc. etc.  O encanto com Meirelles também vai se quebrando a olhos vistos. Cresceu com o aumento de impostos e aumentará mais ainda se ele ceder às pressões para afrouxar a meta fiscal para atender à operação salva-Temer.

         Enquanto isso, o governo abre as torneiras para enterrar a denúncia contra Temer e apega-se a medidas fiscais de resultado duvidoso, como PDV para funcionários públicos  e a cobrança de benefícios pagos indevidamente a pessoas que já morreram. Quem vai devolver e quando? Vem aí mais arrocho fiscal, como o adiamento dos reajustes salariais negociados em 2016, o que reforça a percepção de que não há segurança jurídica no país. 

         Mas entre esta irritação com o governo e seu afastamento há uma distância que o empresariado não parece disposto a percorrer, pressionando o Congresso pela aceitação da denúncia contra Temer. Contra Dilma, engajaram-se, alguns até financiaram a compra de votos. Não tendo certeza de que Temer cairia, resguardam-se. A população, de sua parte, expressa na pesquisas seu repúdio ao governo mas não se anima a protestar nas ruas. Resignou-se ao infortúnio.   

Veja a nota da CNI

Manobra da CAMEX adia fim do acordo com Chile e frustra indústria


 
Câmara de Comércio Exterior reúne oito ministros, mantém monopólio em rota marítima até 2020, prejudica 3,6 mil exportadores e comércio entre Brasil e o país andino.

 
O setor privado não encontra nenhuma justificativa plausível para a decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) que adiou o fim do acordo marítimo entre o Brasil e o Chile para 2020. Segundo o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, o convênio estabeleceu cláusula para a renúncia do acordo durante sua vigência, desta forma, não há explicação para a extensão do acordo.

“A decisão não ajuda a melhorar a competitividade da indústria. Estamos precisando de soluções imediatas e positivas, que gerem emprego, renda e um ambiente que se permita investir mais. Não é o que acontece com essa decisão”, diz Robson Braga de Andrade.

O Chile é o segundo maior parceiro do Brasil na América do Sul e a manutenção do acordo vai impedir a criação de mais de 15 mil empregos, vai manter o frete marítimo para o país andino em média 45% acima do mercado, e os preços dos produtos brasileiros importados do Chile vão permanecer em média 5% mais caros.

Para a CNI é difícil entender porque o governo reuniu oito ministros para privilegiar dois armadores estrangeiros em detrimento de 5 mil empresas nacionais. Ao manter uma reserva de mercado até 2020, o governo continua penalizando diariamente o comércio entre os dois países.

Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que o sobrepreço pago pela indústria extrativa que exporta para o Chile é de 51,4%, as manufaturas pagam 46,4% a mais, a agropecuária 45,1% e o agronegócio 41,5%.

A FGV mostra que as exportações de manufaturas do Brasil para o Chile aumentariam 13,45% e do agronegócio subiriam 11,28% se o acordo fosse denunciado ainda este ano. Os principais benefícios para as exportações chilenas seriam na agropecuária, com incremento de 21,68% e na indústria extrativa, 19,4%. A CNI avalia que o aumento da importação não é negativo, pois o Brasil importa insumos essenciais para a indústria, como o cobre. Com a abertura de mercado, os ganhos na corrente de comércio são de US$ 636 bilhões.

Entenda o caso

Nas décadas de 1960 e 1970 – Governo brasileiro assina uma série de acordos bilaterais de exclusividade com objetivo de promover as marinhas mercantes nacionais.

1975 – Início da vigência do Acordo de Transporte Marítimo entre Brasil e Chile para desenvolver a indústria naval dos dois países. Só navios de bandeira brasileira ou chilena podem operar na rota Brasil-Chile-Brasil

1994 – A política de reserva de carga é desmontada no Brasil, com o fim das conferências de frete e denúncias de acordos de transporte marítimos como entre Brasil e Peru.

2006 – Coalização empresarial apresenta ao governo brasileiro necessidade de ser encerrar o acordo entre Brasil e Chile

2015 – Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Sociedad de Fomento Fabril (Sofofa) emitem declaração conjunta que pede revisão do acordo.

Junho/2016 – CNI, CNI e associações setoriais estabelecem aliança em prol da denúncia do acordo. Estudos mostram que reservas de carga inibem a competitividade, dificultam integração e elevam custo do comércio

Setembro/2016 – Empresas de navegação, que atualmente estão fora da rota, manifestam interesse caso não exista mais a reserva de carga

28 de Setembro de 2016 – Denúncia de acordo é aprovada por unanimidade durante a 1ª reunião da Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) sob a liderança do presidente da República. Resta apenas a promulgação em nova reunião da Camex

30 de novembro de 2016 – Reunião da CAMEX é cancelada

13 de dezembro de 2016 – Reunião da CAMEX é cancelada

25 de julho de 2017 -  CAMEX decide suspender o acordo apenas em 2020

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colunista do Globo diz que Bolsonaro tentará golpe violento em 7 de setembro. Alguém duvida?

Em sua coluna publicada neste sábado (11) no  jornal O Globo , Ascânio Seleme afirma que, "se as pesquisas continuarem mostrando que o crescimento de Lula se consolida, aumentando a possibilidade de vitória já no primeiro turno eleitoral, Jair Bolsonaro vai antecipar sua tentativa de golpe para o dia 7 de setembro".  I nscreva-se no Canal  Francisco Castro Política e Econom ia "Será uma nova setembrada, como a do ano passado, mas desta vez com mais violência e sem freios. Não tenha dúvida de que o presidente do Brasil vai incentivar a invasão do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. De maneira mais clara e direta do que em 2021. Mas, desde já é bom que ele saiba que não vai dar certo. Pior. Além de errado, vai significar o fim de sua carreira política e muito provavelmente o seu encarceramento", afirmou Seleme.  O colunista lembrou que, "em 7 de setembro do ano passado, Bolsonaro chamou o ministro Alexandre de Moraes de canalha, disse que n...

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO NO RENDIMENTO DO SALÁRIO

É indiscutível a importância do estudo para alavancar o rendimento e a produtividade do trabalho das pessoas, mas ainda não tínhamos uma medida exata para o mercado brasileiro da contribuição da educação para o rendimento do trabalho. No início de outubro deste ano, a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV/RJ) publicou um trabalho em que são apresentadas informações relevantes a respeito da influência do estudo no rendimento do trabalho ou o retorno no investimento em capital humano. Existe uma diferença entre o capital humano geral caracterizado como o aprendizado no ensino fundamental, médio e superior e o capital humano específico que o indivíduo adquire através de sua experiência profissional e cursos específicos. O último é perdido, ao menos em parte, quando o indivíduo passa a exercer outra atividade bem diferente da que exercia, enquanto que o primeiro tipo de capital humano só é perdido com a morte do indivíduo. Em analisando pessoas do mesmo sexo, raça, idade e localid...

Veja em que trabalha e quanto ganha a filha da presidente Dilma Rousseff

Paula Rousseff desfila com Dilma na cerimônia de posse do segundo mandato em 1º de janeiro Marcelo Camargo/Agência Brasil Casada, 39 anos, mãe e procuradora do trabalho no Rio Grande do Sul. Essa é Paula Rousseff Araújo, que, como o sobrenome famoso já entrega, é filha da presidente Dilma Rousseff. Ela é discreta, evita se expor publicamente e, em geral, só é vista em algumas solenidades oficiais da mãe, como no primeiro dia do ano, quando desfilou em carro aberto com Dilma na cerimônia de posse do segundo mandato da presidente. Paula Rousseff entrou no MPT (Ministério Público do Trabalho) do Rio Grande do Sul em 2003 por meio de concurso público. Atualmente, recebe salário de R$ 25.260,20 e exerce a função em Porto Alegre. Funcionários do MPT evitam dar detalhes sobre o comportamento da colega de trabalho, muito menos se atrevem a confirmar se a filha herdou o comportamento linha dura conhecido da mãe. “Ela tem fama de ser uma procuradora muito comp...