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Pedro Taques é suspeito de receber propina e de proteger político corrupto


Algum tempo atrás, se houvesse votação interna no Ministério Público Federal para eleger  o Procurador símbolo, o vencedor seria Pedro Taques.

Taques era uma espécie de anti-Deltan Dallagnol. Enquanto o campo de batalha de Deltan são as trepidantes telas de computador, a consulta a bancos de dados e o cenário de baixo risco das entrevistas coletivas, Taques enfrentava os riscos verdadeiros.

Cada vez que entrava em um restaurante de Mato Grosso, provocava dois movimentos. Primeiro, aplausos dos presentes. Depois, o restaurante se esvaziando com receio de algum atentado. 
Não era por menos.
Taques se tornou nome nacional como procurador da República no Mato Grosso na Operação Arca de Noé, combatendo supervilão João Arcanjo Ribeiro, o "Comendador" Arcanjo, rei do bicho do estado, dono de cassinos e do tráfico, recursos em off-shores, paraísos fiscais, parte dos quais foi lavado em grandes plantações de soja. Blairo Maggi, o segundo maior plantador de soja do mundo, aliás, poderá contar um pouco mais sobre como esse fascinante personagem ajudou a alavancar competidores de Blairo, quase tão fortes quanto ele.

Era tão poderoso que, quando um desavisado superintendente do Banco do Brasil  mandou cobrar uma dívida, recebeu a visita do "Comendador" com um aviso curto e grosso:
-- Se me cobrar de novo, te mato!

Foi preciso o governador da época ligar para Arcanjo para acalmá-lo.

Assim como outros varões de Plutarco da política - como o ex-senador Demóstenes Torres – Taques criou fama de incorruptível. E deitou na cama. E a política brasileira ganhou um campeão da moralidade para ajudar a mudar os hábitos seculares.

Candidatou-se ao Senado em cima do mote único do mocinho contra o bandido.

Eleito, tornou-se o preferido do MPF, a ponto do Procurador Geral da República Roberto Gurgel desengavetar uma denúncia contra Renan Calheiros no exato dia em que haveria eleição para presidente do Senado. O outro candidato era Pedro Taques.

Ali, o MPF já mergulhara até a tampa na politização das denúncias. Aceitava-se que a gaveta de Gurgel - para onde iam as denúncias contra políticos - fosse controlada apenas por ele e sua esposa. Na gaveta em que a denúncia contra Renan repousava, aguardando o momento de vir à tona, ficariam  guardadas denúncias contra Aécio Neves, o colega de Gurgel Demóstenes Torres e sabe-se lá quem mais, para serem utilizadas quando e se necessárias, ou servir como arma de barganha – conforme rumores que correram na época da indicação de Gurgel para um segundo mandato à frente da PGR.

Eleito governador, acabaram as circunstâncias que fizeram de Taques um campeão das virtudes públicas e entraram as oportunidades para introduzi-lo no reino dos vícios políticos.

Largou o PDT, por onde foi eleito, entrou para o PSDB, partido com o qual o MPF majoritariamente tem mais afinidades. Depois que Michel Temer assumiu o poder, aproximou-se do PMDB local.

Em menos de dois anos, espocaram denúncias. Primeiro, propinas em obras públicas. Agora, a denúncia do procurador-geral de Justiça em exercício de Mato Grosso, Luiz Alberto Esteves Scaloppe, de que Taques estaria agindo em favor do mais suspeito político em atividade, Ministro Eliseu Padilha (https://goo.gl/5blsyn).

O Ministério Público Estadual entrou com medida para obrigar o governo do Estado a tomar providências e regularizar o parque estadual, cuja área foi invadida por Padilha. Taques não apenas não tomou medida alguma como colocou a Procuradoria-Geral do Estado para derrubar a liminar.

No início Taques agiu à sorrelfa (para utilizar um termo familiar no linguajar jurídico). Primeiro convocou uma reunião no Palácio do Governo com a promotora Regiane Soares Aguiar, que atuava no caso. As pressões foram tantas que a promotora saiu do Palácio com a convicção de que havia alguém mito forte por trás das pressões de Taques. Não levou muito tempo para saber que era Padilha.

Em dezembro de 2016, o ex-procurador Taques, egresso de um poder, o MPF, que se consagrou na defesa das causas ambientais, reuniu outros posseiros do parque para se manifestar contra a decisão do MPE de preservar áreas públicas.

As ações obscuras de Taques político não se restringiram a esse episódio.

Carlinhos Cachoeira, que mantém intacta sua influência política em Goiás e Brasilia, descobriu na construção de prédios escolares um dos negócios promissores para exercitar a corrupção política.

Em dezembro passado, a Operação Rêmora - também do Ministério Público Estadual do Mato Grosso - trouxe à luz o delação do ex-secretário de Educação Permínio Pinto, admitindo fraudes em licitação em troca de financiamento para a campanha de Pedro Taques (https://goo.gl/kMZdBP).
A alegação de Taques foi de que demitira todos os envolvidos no esquema, aliás, medida prudencial, já que estavam presos ou detidos provisoriamente.

A delação do empresário Giovani Guizzardi trouxe detalhes complicados, de que se tratava mais do que caixa 2 de campanha, mas propina (https://goo.gl/n51TuC). Segundo ele, no final de 2014, o empresário Alan Maluf informou ter "investido" R$ 10 milhões na campanha de Taques, e que teria que recuperar esse valor investido junto ao Estado.

Taques recorre às respostas padrões sobre suspeitas em financiamento de campanha e invocou o passado como blindagem contra o presente:
"O governador reitera o que já disse em outras situações, de que a prestação de contas da sua campanha eleitoral de 2014 foi aprovada sem ressalvas pela Justiça Eleitoral e que, por essa razão, repudia toda e qualquer tentativa de envolvê-lo em qualquer ato ilegal, prática que ele sempre combateu ao longo da sua vida, especialmente nos 15 anos nos quais atuou como Procurador da República".


Quando Eliseu Padilha cumprir o que o destino lhe reserva – a prisão – Taques se constituirá em boa análise de caso sobre as circunstâncias que separam o probo do ímpio.

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