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Cuidado com os "cidadãos do bem", muitas vezes ele não são, aliás, são mentirosos

A classe conservadora do Brasil, seja pela representação de pessoas “de bem”, ou seja pelos políticos autointitulados defensores das “pessoas de bem”, ajustam o seu discurso ao sabor dos acontecimentos, das suas ideologias (que eles insistem em dizer que não têm).
No nascer das manifestações de junho, no já longínquo 2013, o grupo de “cidadãos de bem” de inicialmente se posicionou contra. É legítimo reivindicar transporte público de qualidade, diziam, mas badernas que depreciam o patrimônio público e, principalmente, o privado (tipo aquele banco que teve a vidraça quebrada e cujo dono suou muito para chegar aonde chegou) são inadmissíveis. E mais, o trabalhador (o trabalhador “de bem”, ressalte-se sempre) tem o direito de ir pra casa descansar. Portanto, nada de trancar o trânsito.
A mídia tradicional, como é tradição, comprou a indignação dos telespectadores e leitores “de bem” e noticiou os casos de vandalismo, alimentando, num círculo vicioso, a ira daqueles favoráveis a toda e qualquer manifestação, mas contrários a todo e qualquer tipo de interferência na vida alheia. Sobretudo, repito, da vida das pessoas “de bem deste País”.
Ocorre que as redes sociais trataram de desmentir as notícias de que o vandalismo era generalizado. Fotógrafos e câmeras amadores (mas com mais senso de responsabilidade que muitos profissionais) encheram a internet de imagens e vídeos provando que os arruaceiros eram minoria. A televisão não só, depois desse desmascaramento em nível viral, mudou de lado, como teve uma nota de esclarecimento da Patrícia Poeta ao vivo no Jornal Nacional. Isso é coisa que o MasterCard não compra e só se compara à leitura do direito de resposta do Leonel Brizola pelo Cid Moreira, no mesmo programa.
A mim, beirou ao patético apresentadores que num dia pediam para a polícia agir com rigor (eles queriam dizer meter o pau nos manifestantes), e no dia seguinte defender esses jovens que “estavam mudando o País.” Nesse momento os “cidadãos de bem” vestiram as suas melhores roupas e foram pra rua protestar também. Tiravam selfies estampando o cartaz que dizia que estavam ali contra tudo e contra todos. Partidos políticos, de esquerda, que começaram as manifestações foram expulsos delas sob acusação de oportunismo. Abaixo a Política! Vamos parar o trânsito para mostrarmos nossa indignação geral. E o trabalhador de bem que só queria ir pra casa descansar?
Bem, esse, pra continuar com o almejado título de “cidadão de bem”, devia ir também pra rua repudiar alguma coisa. Na falta de motivos, que repudiasse “tudo isso que está aí”.
A cada vez que tem aumento das passagens de ônibus, pipocam manifestações por todo o Brasil, sobretudo nas capitais. Houve algumas desde 2013. Em todas elas os “cidadãos de bem” não participaram. Não que sejam contra manifestações, já disse. É que se infiltram baderneiros nos movimentos, que depredam e trancam as ruas. A polícia, dizem eles, deve agir com rigor.
Pois bem, agora o País está à beira de parar devido ao estacionamento daqueles que fazem nossa economia andar, os caminhões. Como o movimento é contra algumas medidas do Governo Federal, os cidadãos de bem aderiram à causa de pronto. Os caminhoneiros trancam estradas, obrigam os colegas a aderirem e já houve casos em que cortaram a mangueira de combustível de caminhões alheios para que esses não seguissem viagem. Vandalismo? Claro que não. Uma medida necessária para o bom êxito no movimento. Para o bem do Brasil!
O que realmente querem os caminhoneiros é algo que os “cidadãos de bem” não sabem e nem fazem muita questão de saber. O que importa é que o movimento é contra o Governo Federal, e os “cidadãos de bem” são contra o Governo Federal. Querem o seu impeachment a todo custo. Não importa que o Governo cortou direitos trabalhistas (algo aceitável pelos “cidadãos de bem”), importa que mentiu em campanha eleitoral e deve ser impedido. Não importa que houve roubo na Petrobrás em outros governos, importa é que houve neste Governo e por isso ele deve ser impedido.
Eu sou muito a favor das manifestações. Elas são, amiúde, justas. E manifestações têm sim que, invariavelmente, interferir na vida das pessoas.
Nem vou entrar no mérito da causa dos caminhoneiros (cada um que pesquise e procure saber as razões deles – menos os “cidadãos de bem”, que já são desde já a favor, desde que a causa continue acusando o Governo Federal de algo). Mas aviso aos líderes do movimento: cuidado com o “apoio” dos “cidadãos de bem.” Eles são bem inconstantes.
Por Delmar Bertuol, Pragmatismo Político

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