FHC, Lula e outros políticos fazem palestra muito mais caras do que as que Marina faz. Por que a implicância só com ela?
Marina Silva
Marina parece Pepe Mujica, pela aparente simplicidade e despojamento, mas não
é.
Isso fica claro com a revelação hoje, pela Folha, de que ela ganhou 1,6
milhão de reais com palestras apenas nos três últimos anos.
Alguém imagina Mujica fazendo isso?
Não há nada de ilegal nisso. Mas as palestras milionárias como as de Marina
ficam a um passo do limite da indecência.
Ganhar 30.000, 40.000, 50.000 numa hora para palestras pagas por empresas
interessadas em agradar o palestrante?
É uma questão ética de extrema complexidade.
Marina não está inovando nisso. Recentemente, Joaquim Barbosa anunciou que
sua próxima atividade serão palestras.
Alguns degraus acima, FHC e Lula, tão diferentes em tantas coisas, se
igualaram na celeridade com que, deixada a presidência, começaram a fazer
palestras.
FHC e Lula são estrelas do circuito internacional de palestras, que paga
supercachês em dólares.
Uma hora pode valer 100 mil dólares ou mais.
É um mercado para ex-presidentes. Nos Estados Unidos, Reagan levou essa
atividade aos céus. Clinton e Bush seguiram o mesmo caminho.
Na Inglaterra, Tony Blair fez o mesmo depois que deixou de ser premiê. Com
frequência a mídia inglesa publica matérias em que “denuncia” a fortuna
levantada por Blair com suas palestras.
Antes de Blair, Thatcher se lançou no circuito, mas não teve muito tempo para
ganhar quanto pretendia porque um problema mental logo se manifestou nela quando
foi apeada do poder.
FHC aprendeu tanto sobre viajens, quando virou palestrante profissional, que
comprou uma vistosa mala vermelha para não se confundir na esteira nos
desembarques.
Uma palestra internacional rende, para um ex-presidente, mais que ele ganhou
por um ano de trabalho.
Do jeito que as coisas vão, daqui a pouco a presidência vai ser uma escala
para o mundo das palestras internacionais.
A ganância, mais que a vaidade, é o pecado favorito do diabo.
Necessidade, a rigor, você não tem ao sair do poder.
Ex-presidentes têm boas pensões.
Nos Estados Unidos, as pensões presidenciais foram estabelecidas na década de
1950 por razões práticas.
O ex-presidente Harry Truman, ao deixar a Casa Branca, não tinha dinheiro.
Estava quebrado.
Hoje, ex-presidentes americanos recebem cerca de 200 000 dólares por ano de
pensão, fora outros benefícios como um bom sistema de saúde.
A imprensa brasileira jamais fez uma investigação aprofundada sobre o mundo
das palestras por uma razão: muitos jornalistas são palestrantes.
Na Globo, colunistas como Merval, Míriam Leitão e Jabor estão entre os
palestrantes mais bem pagos do país.
A Folha proíbe seus jornalistas de fazer isso, e está correta, mas a Globo
não.
A Globo tira proveito disso para pagar salários baixos. Fica subentendido que
a empresa fornece a vitrine de que seus jornalistas precisam para fazer
palestras.
Na dramaturgia, há uma situação parecida. Fernanda Montenegro certa vez disse
que a Globo pagava pouco para seus atores porque sabia que eles precisavam dela
para receber cachês milionários em publicidade.
Marina, repito, não é Mujica.
Mas quem é no Brasil?
Por Paulo Nogueira, do DCM
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