Assessor do ex-ministro Alexandre Padilha fazia a ponte entre a quadrilha do doleiro e o Ministério da Saúde
O então ministro da Saúde com André Vargas, que fazia
lobby para o laboratório
Sócio do Labogen, Leonardo Meirelles afirmou que o ex-assessor do Ministério
da Saúde Marcus César Ferreira de Moura foi contratado pelo laboratório
justamente para atuar como lobista em órgãos do governo federal, em especial na
pasta em que trabalhou. “O Marcus Moura mantinha os contatos institucionais com
o Ministério da Saúde”, disse Meirelles, segundo informa reportagem de Fausto
Macedo para o jornal O Estado de S. Paulo.
O Labogen é apontado pela Polícia Federal como o carro-chefe do esquema de
lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef.
O laboratório, controlado pelo doleiro, tentou fechar contrato com o
Ministério da Saúde durante a gestão do ex-ministro Alexandre Padilha para o
fornecimento de remédios de hipertensão pulmonar no valor de R$ 6,2 milhões por
ano – pelo prazo de cinco anos.
A parceria foi desfeita após a Polícia Federal deflagrar a Operação Lava
Jato, que desmontou em 17 de março deste ano o esquema de Youssef e apontou
suspeitas sobre os negócios do Labogen, entre outras transações do doleiro.
Escutas da Polícia Federal flagraram o deputado licenciado André Vargas, que
se desligou do PT, em meio ao escândalo da Lava Jato, dizendo a Youssef, por
meio de mensagem de texto, que Padilha havia indicado o nome de Moura para um
cargo de comando no laboratório. A mensagem interceptada foi enviada ao doleiro
em novembro de 2013.
Moura havia trabalhado com Padilha no Ministério da Saúde entre maio e agosto
de 2011, como assessor de eventos da pasta do governo federal. Também trabalhou
na campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010. Padilha, que é pré-candidato
do PT ao governo de São Paulo, nega que tenha feito a indicação. O Ministério da
Saúde afirma que nenhum pagamento foi liberado para o Labogen.
Moura passou a atuar no Labogen em dezembro de
2013, segundo Meirelles. Ele ficava sediado em Brasília, mas com poderes para
deslocamentos pelo País, em nome do laboratório. O sócio do negócio controlado
por Youssef diz que o ex-assessor de Padilha não chegou por indicação do
ex-ministro, mas sim de outro personagem do escândalo da Lava Jato.
Segundo o sócio do Labogen, a indicação de Moura foi feita pelo fundo GPI
Participações e Investimentos, controlado por Pedro Paulo Leoni Ramos,
ex-ministro do governo Fernando Collor (1990-1992). Pedro Paulo, conhecido como
PP, é suspeito de integrar o esquema de Youssef.
“Ele (Moura) veio através desse fundo de investimentos. Não tive nenhuma
influência (na contratação) e nenhum contato com o ex-ministro (Padilha). Tive
reuniões com o Marcus Moura, ele esteve algumas vezes na empresa tomando
conhecimento e ciência das nossas atividades. Eu não o conhecia, nunca o tinha
visto”, afirmou Meirelles.
O registro em carteira indica que Moura recebia R$ 4,2 mil ao mês. “Ele
ganhava também uma verba para custear viagens e hospedagens. Após o episódio
(deflagração da Lava Jato, em 17 de março), não tive mais contato com o Marcus,
outro motivo para que o desligue”, disse Meirelles. Segundo informou o jornal
Folha de S.Paulo no domingo, o vencimento real de Moura chegava a R$ 25 mil ao
mês.
O advogado do sócio do Labogen afirma que o trabalho de atuação do
laboratório com o governo realizado pelo ex-assessor de Padilha era legítimo.
“Todas as empresas têm alguém responsável pelas relações com o poder público”,
disse Haroldo César Nater, defensor de Meirelles – o sócio do Labogen também é
acusado de integrar o esquema de lavagem do doleiro.
“Não há nada de irregular nesse trabalho. Um grupo de investidores que tem
interesse no Labogen disse que ele (Meirelles) precisava contratar uma pessoa
que pudesse fazer o papel de relações institucionais”, disse o
advogado.
Diante do escândalo e da ligação de seu nome ao do ex-ministro Padilha, Moura deve perder o emprego no laboratório. “Estou providenciando o desligamento dele, vou comunicá-lo formalmente até porque não temos mais condições de bancar essa despesa”, disse Meirelles.
O Estado revelou no domingo que o Labogen enviou
pelo menos US$ 113 milhões para o exterior, segundo a Polícia Federal, por meio
de operações de fachada. Na prática, o laboratório dizia que estava importando
insumos para medicamentos, mas na verdade a intenção era apenas retirar o
dinheiro do País, segundo os investigadores.
O ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que assim como Youssef está
preso desde março, também é apontado como integrante do esquema que, ao todo,
teria lavado R$ 10 bilhões. (Da Agência Estado)
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