Pular para o conteúdo principal

Será que a diminuição de impostos dos ricos faz com que se eleve a desigualdade de riqueza?

Países como os EUA passaram por maior concentração de renda no mesmo período em que cortaram radicalmente tributos.


Um estudo realizado por quatro economistas indicou que, nos países desenvolvidos, existe uma relação direta entre o aumento da desigualdade social e suas respectivas políticas de redução de impostos para a parcela mais rica da população.


O objetivo inicial do estudo era observar como os 18 países estudados mudaram sua política tributária nos anos em que a desigualdade crescia. O resultado mostra que os países que registraram aumento da concentração de renda foram também os que realizaram os maiores cortes nos impostos para a população mais abastada.


No gráfico acima, reproduzido do site Mother Jones, a seta vertical representa o quanto o 1% da população mais rica de cada país abocanha da riqueza de seu respectivo território (em porcentagem, de baixo para cima). Na vertical, a diminuição da carga tributária (em pontos percentuais da direita para a esquerda) para a população que paga mais (a de maior renda).

Os estudos compreenderam o período de 1960 a 2011 e incluem Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, Suíça, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Holanda, Noruega, Japão, Itália, França, Portugal e Espanha.


Chama atenção os Estados Unidos, que cortaram mais de 40 pontos na taxa tributária e viram a participação dos 1% mais ricos subir mais de dez pontos percentuais (de 8,87% em 1975 para 19,82% em 2011 – um ano antes da crise, em 2007, esse número chegou a 23,5%). O Reino Unido vem logo atrás, com aumento de 6% no índice de concentração de renda e quase 50 pontos de corte nos tributos.


Já nos países que não registraram aumento na concentração de renda, especialmente Finlândia, Alemanha e Suíça, os cortes nos impostos foram inferiores a 10 pontos percentuais. O Japão foi o país que mais conseguiu o equilíbrio em cortar impostos (pouco mais de 30 pontos) sem que a concentração de riqueza aumentasse muito.


Há, sem dúvidas, diferentes maneiras de interpretar esse gráfico. Os quatro economistas que realizaram o estudo citaram como uma possível hipótese a tese do especialista na área tributária Joel Slemrod: as taxas mais baixas diminuiriam o incentivo do contribuinte para a sonegação, o que provavelmente levou os mais ricos a declararem seu patrimônio de acordo com a realidade. Isso tende a não ocorrer quando o imposto é alto. No entanto, essa hipótese não explica o aumento da desigualdade.


Dois economistas ouvidos pelo jornal norte-americano The Washington Post argumentam que os cortes nas taxas levaram ao aumento da atividade econômica entre os principais beneficiados (entre os quais estariam os 1% mais ricos) e que, portanto, tiveram um maior crescimento de renda – tradicional argumento liberal de que os ricos ajudam a produz riqueza.


Já Kevin Drum, blogueiro do Mother Jones, aventa uma terceira possibilidade: quando um país inteiro aceita culturalmente a tese de que o que é bom para os ricos é bom para todos (doutrina comum aos países anglófonos, por exemplo), cria-se um movimento em defesa de uma série de políticas públicas que beneficiam os ricos. O corte nos impostos é apenas uma dessas políticas, que também implicariam em medidas econômicas que, como a desregulamentação financeira ou o enfraquecimento sindical - contribuem para aumentar a desigualdade.


Para Drum, isso explicaria a diferença nos resultados entre EUA e Alemanha. Nos EUA, os republicanos conservadores têm obtido sucesso em persuadir a opinião pública norte-americana de que a "economia livre" beneficia a todos. Na Alemanha, essa crença é muito menos ativa na sociedade. Por isso, segundo ele, as políticas públicas nos EUA beneficiam os ricos, que se enriquecem ainda mais. Na Alemanha, não.


Por Marco Antonio, Do Opera Mundi

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Colunista do Globo diz que Bolsonaro tentará golpe violento em 7 de setembro. Alguém duvida?

Em sua coluna publicada neste sábado (11) no  jornal O Globo , Ascânio Seleme afirma que, "se as pesquisas continuarem mostrando que o crescimento de Lula se consolida, aumentando a possibilidade de vitória já no primeiro turno eleitoral, Jair Bolsonaro vai antecipar sua tentativa de golpe para o dia 7 de setembro".  I nscreva-se no Canal  Francisco Castro Política e Econom ia "Será uma nova setembrada, como a do ano passado, mas desta vez com mais violência e sem freios. Não tenha dúvida de que o presidente do Brasil vai incentivar a invasão do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. De maneira mais clara e direta do que em 2021. Mas, desde já é bom que ele saiba que não vai dar certo. Pior. Além de errado, vai significar o fim de sua carreira política e muito provavelmente o seu encarceramento", afirmou Seleme.  O colunista lembrou que, "em 7 de setembro do ano passado, Bolsonaro chamou o ministro Alexandre de Moraes de canalha, disse que n...

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO NO RENDIMENTO DO SALÁRIO

É indiscutível a importância do estudo para alavancar o rendimento e a produtividade do trabalho das pessoas, mas ainda não tínhamos uma medida exata para o mercado brasileiro da contribuição da educação para o rendimento do trabalho. No início de outubro deste ano, a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV/RJ) publicou um trabalho em que são apresentadas informações relevantes a respeito da influência do estudo no rendimento do trabalho ou o retorno no investimento em capital humano. Existe uma diferença entre o capital humano geral caracterizado como o aprendizado no ensino fundamental, médio e superior e o capital humano específico que o indivíduo adquire através de sua experiência profissional e cursos específicos. O último é perdido, ao menos em parte, quando o indivíduo passa a exercer outra atividade bem diferente da que exercia, enquanto que o primeiro tipo de capital humano só é perdido com a morte do indivíduo. Em analisando pessoas do mesmo sexo, raça, idade e localid...

Veja em que trabalha e quanto ganha a filha da presidente Dilma Rousseff

Paula Rousseff desfila com Dilma na cerimônia de posse do segundo mandato em 1º de janeiro Marcelo Camargo/Agência Brasil Casada, 39 anos, mãe e procuradora do trabalho no Rio Grande do Sul. Essa é Paula Rousseff Araújo, que, como o sobrenome famoso já entrega, é filha da presidente Dilma Rousseff. Ela é discreta, evita se expor publicamente e, em geral, só é vista em algumas solenidades oficiais da mãe, como no primeiro dia do ano, quando desfilou em carro aberto com Dilma na cerimônia de posse do segundo mandato da presidente. Paula Rousseff entrou no MPT (Ministério Público do Trabalho) do Rio Grande do Sul em 2003 por meio de concurso público. Atualmente, recebe salário de R$ 25.260,20 e exerce a função em Porto Alegre. Funcionários do MPT evitam dar detalhes sobre o comportamento da colega de trabalho, muito menos se atrevem a confirmar se a filha herdou o comportamento linha dura conhecido da mãe. “Ela tem fama de ser uma procuradora muito comp...