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A seca que está afetando o Nordeste poderia ter efeitos muito menos danosos se houvesse comprometimento dos políticos

Por Rui Daher

Como os deslizamentos em encostas de morros nos períodos de chuva intensa nos sul e sudeste do País, a atual seca no nordeste é criminosa.


Folhas e telas cotidianas batem cabeça sobre a seca naquela região. Sim, a de sempre, tratada por Gonzaga e Assaré em poesias e canções lindas como tristes.


Preocupam-se em discutir recordes. A pior em 30, 40 ou 50 anos. Percebi várias versões. Deve ser importante saber precisar.


Em que baseiam suas apostas? Índices pluviométricos históricos, períodos mais ou menos longos de duração, pesquisa junto aos mesmos Severinos, como na poética de João Cabral de Melo Neto (1920-1999)?


Qual a referência, senhores? Não acham que tanto faz? Não terá similar importância do arrastar de morros, barracos e pessoas para baixo da terra no final do ano?


Ora, meu senhores, 30, 40 ou 50, o quê? Órgãos que foram criados para combater a seca, programas e projetos prometidos em épocas de eleições e depois abandonados ou tocados a passos de tartarugas?


Sabem o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS)? Pronto! Foi criado em 1909. Ainda existe. Sede em Fortaleza (CE).


Lembram-se da SUDENE, Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste? 1959. Andou morrendo e renascendo ao sabor dos desejos políticos. Fica num grande edifício, no Recife (PE). Desenvolvimento sem água? Sei lá.


CODEVASF, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba, firme, lá em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Além das constantes refregas com seus funcionários, manda na água do Velho Chico e recebe exacerbadas críticas de seus usuários. Agora mesmo se exime de dar explicações sobre o projeto Itaparica (PE/BA) de irrigação a reassentados.


Repasso: nada de 30, 40 ou 50 sei lá o quê, mas quase milhão de rebanho morto ou abatido precocemente; 70% de queda na produção de leite; pra mais de milhão de hectares de plantações já prejudicadas.


O governo anuncia bilhões de reais de ajuda emergencial para tentar desanuviar semblantes preocupados.


Ah, emergencial. Nunca antes neste país houvera seca no Nordeste.


Em Juazeiro (BA), converso com a técnica agrícola, Bruna Letícia, que me alerta para o Projeto do Salitre, realizado em terras de boa fertilidade da região que passou décadas vendo seus rios se transformar de permanentes em temporários.


Pois bem, o projeto saiu da promessa, para hoje se esvair em equívocos.


A cessão dos lotes é feita através de entrevistas para saber a capacidade financeira e técnica do pretendente, o que traz para os lotes pessoas de fora que desconhecem as vocações regionais, arrendam as terras para os nativos e ficam com 20% da renda bruta proporcionada pela produção.


Ela pergunta: por que não apoiar e treinar os que já estão lá, nasceram no pedaço e continuam pobres sofrendo com a seca?


Não seria esta uma boa reforma agrária com pouco investimento em adutoras e canais de irrigação contraposta à faraônica Transposição, que lá muitos acreditam não será terminada?


O escritor e humorista Millôr Fernandes, dizia que “pensar livre é só pensar” (1923-2012).


No Brasil, liberdade é não pensar. O país do serão: serão construídos, serão providenciados, serão liberados. Serão?

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