As formas de desenvolvimento econômico que afetam as economias e as sociedades se dão como uma revolução que muitas vezes não é percebida, mas muda o modo de vida das pessoas substancialmente. Historicamente, isso ocorreu em muitas nações que hoje são consideradas ricas. As revoluções industriais mudaram o padrão de vida da imensa maioria de quem vivia em países da Europa e em outras nações fora do Velho Continente nas épocas em que ocorreram. Essas mudanças geralmente se dão paulatinamente, mas considerando mesmo o médio prazo pode ser sentida, por exemplo, em termos de mudanças nos tipos de empregos que passam a ser ofertados em determinados setores em escala muito menor do que ocorria em tempos passados.
Fenômenos desse tipo, ocorrem, por exemplo, em país ou região que passa de uma economia tipicamente agrária para uma industrial ou intensiva em capital. Na primeira revolução industrial que ocorreu em vários países europeus, trabalhadores campestres passaram a produzir peças, equipamentos e utensílios industriais. O mesmo ocorreu no Brasil no decorrer do século passado, mais intensivamente a partir dos anos 1950. A economia brasileira era praticamente agrária, existiam poucas indústrias no país, sendo que muitos dos produtos industriais consumidos aqui eram produzidos no exterior. A partir de 1930 é que começou, de fato, a haver uma transformação da economia brasileira em que diminuía a importância da agricultura e aumentava a da indústria.
Tipicamente, em economia que sofre alteração nos processos produtivos a partir do estágio inicial de desenvolvimento, começa aumentando a participação da indústria na economia, diminuindo a da agricultura, mas esta continua crescendo em termos absolutos com a incorporação de novas tecnologias e aumento de produtividade. Ao mesmo tempo em que a indústria aumenta substancialmente a sua produtividade, a ponto de suplantar em muito a da agricultura, surgem novas demandas de serviços sofisticados dos mais diferentes tipos provocadas pelo aumento da renda na indústria e na agricultura que apesar de não apresentar a mesma dinâmica daquela gera renda suficiente para alterar o perfil de demanda dos pertencentes a esse setor da economia. Isso tem continuidade com o país obtendo alta renda tanto em serviços, que passa a ser o setor mais importante da economia, como no setor industrial, que perde importância na economia, e também na agricultura que ainda tem uma dinâmica bastante forte.
Com a recente discussão que se instalou no país a cerca do fenômeno da desindustrialização do Brasil, pode-se indagar: O Brasil está vivendo um fenômeno parecido com o descrito acima? Com as divulgações por órgãos do governo de que a renda do país cresceu significativamente nos últimos anos poderiam nos levar a acreditar que a resposta para a indagação acima seria afirmativa. Entretanto, a verdade é bem diferente. Nos países que experimentaram essa transformação em suas economias nos anos 1970 e 1980, com a indústria perdendo peso na economia, isso ocorreu quando a renda per capita era muito mais alta do que a do Brasil na atualidade. Outro argumento que ajuda a tratar o fenômeno que está ocorrendo agora no Brasil como diferente do descrito no parágrafo anterior é que a produtividade média na indústria brasileira nos últimos anos tem ficado negativa enquanto que nos países ricos ocorreu exatamente o inverso, mesmo com a indústria perdendo peso continuou aumentando a sua produtividade.
Na verdade, a diminuição da participação da indústria brasileira na economia está muito mais relacionada com a falta de competitividade com os produtos estrangeiros do que qualquer outro fenômeno típico de desenvolvimento econômico. Não é segredo que vários setores em várias regiões do país sucumbiram em razão da invasão de produtos estrangeiros, notadamente os provenientes da China. Fatores como taxa de câmbio muito valorizada, taxas de juros muito altas, impostos exagerados, nível de educação muito baixo com qualidade muito aquém da ideal ajudam a explicar esse fenômeno para o processo de desindustrialização que o Brasil está vivendo. Também ajudam explicar esse fenômeno a facilidade com que países entram no Brasil com seus produtos fabricados através de mão de obra extremamente barata e o pouco investimento em tecnologias e inovações visando aumentar a produtividade no setor.
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