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No Brasil, a remuneração do trabalho ainda é muito baixa

O trabalho faz das pessoas úteis a elas próprias, ao país e à sociedade gerando riqueza que irá servir de forma direta ou indireta a todos. O trabalho, independentemente do tipo, da complexidade e das pessoas envolvidas é fundamental para a melhora de vida no país, seja na produção de bens e materiais ou na produção de serviços é a parte mais importante do PIB em quase todos os países do mundo. O Brasil tem remuneração do trabalho em termos do PIB igual, superior ou inferior ao praticado pelos principais países do mundo? No Brasil, a participação da remuneração do trabalho em relação ao PIB tem aumentado ou diminuído ao longo do tempo?

Em trabalho muito recente, os professores Cláudio Monteiro Considera da Universidade Federal Fluminense e Samuel de Abreu Pessoa da Fundação Getúlio Vargas apresentaram os percentuais dos rendimentos do trabalho com relação ao PIB de 1959 até 2008. Nessa pesquisa eles apresentaram diversos resultados considerando o rendimento dos autônomos como renda de capital, considerando a metade do rendimento dos autônomos como rendimento do trabalho e a outra metade como do capital e levando em conta a renda dos autônomos como renda do trabalho até o limite do rendimento médio de uma pessoa que trabalha em uma empresa, o restante sendo considerado como renda do capital. Eles consideram também o rendimento do trabalho somente dos trabalhadores do setor privado utilizando essas três formas de contabilizar o rendimento do trabalho.

Considerando todo o rendimento dos autônomos como de capital, teve-se uma média de 46,5% do PIB para o período de 1959 a 2008 (até 1990 os dados de rendimentos estavam disponíveis somente a cada cinco anos, somente a partir desse último ano é que o IBGE passou a divulgar esses números anualmente). A média para o período de 1990 a 2008 foi de 48,4%. Utilizando os rendimentos dos autônomos a metade como trabalho e a outra metade como de capital teve-se uma média de 1959 a 2008 de 56,3% e do período de 1990 a 2008, 59,6% do PIB. Considerando o rendimento dos autônomos como de capital somente o rendimento que sobra do rendimento médio de um trabalhador na mesma atividade tem-se uma média de 51,8% de 1959 a 2008 e de 54,5% do período de 1990 a 2008.

Levando em conta somente os trabalhadores do setor privado em relação ao PIB do setor privado tem-se uma participação ainda menor do rendimento do trabalho sobre a renda. A participação do rendimento do trabalho dos trabalhadores do setor privado no PIB do setor privado é, média, 6,6 pontos percentuais menores do que quando se considera a economia como um todo. Considerando as três formas mencionadas no parágrafo acima, as médias foram as seguintes, respectivamente: de 1959 a 2008 – 39,4%, 50,7% e 44,6% e considerando de 1990 a 2008 as médias foram 40,6%, 53,8% e 46,8%, respectivamente. Mesmo considerando o método mais abrangente, somente em um ano do período analisado se tem um percentual de 64%, em todos os outros anos a participação do rendimento do trabalho com relação à renda geral apresenta-se inferior a esse percentual.

Uma diferença bastante importante encontrada nessa pesquisa dos dois professores em relação às pesquisas realizadas levando em conta a economia mundial é que o percentual do PIB destinado ao rendimento do trabalho no Brasil é bem inferior ao que é praticado nos países desenvolvidos. Em média, essa diferença chega a quase quinze pontos percentuais. Apesar de mudanças tecnológicas bastante significativas exigindo alta qualificação dos nossos trabalhadores com elevação acentuada da produtividade do trabalho ainda não foi possível fazer com que o fator trabalho tenha uma remuneração compatível ao que é praticada em muitos países desenvolvidos, mesmo considerando o PIB. Embora a participação dos rendimentos do trabalho com relação ao PIB tenha aumentado ao longo dos anos, ainda estamos muito aquém do que deveríamos almejar em termos de rendimento do trabalho.

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